Ao recado do Copom na quarta se somou nesta quinta a segunda alta consecutiva de juros por parte do Banco da Inglaterra, para 0,50%, e o tom surpreendentemente mais duro do Banco Central Europeu. Após anunciar a manutenção dos juros na zona do euro, a presidente do BCE, Christine Lagarde, mostrou preocupação com a inflação, levando o euro a uma forte valorização frente ao dólar. Após a fala de Lagarde, casas como o Danske Bank e o Morgan Stanley passaram a prever uma elevação inicial da taxa de juros na zona do euro no fim deste ano. O programa de compra de títulos pode terminar no terceiro trimestre.
Com o Federal Reserve na vanguarda, os bancos centrais dos países desenvolvidos vão embarcar em um processo de normalização da política monetária nos próximos meses enquanto o BC brasileiro já está quase no fim de seu ciclo de aperto. Era natural que, diante de tal quadro, houvesse ajustes e realização de lucros no mercado de câmbio local, após a recente rodada expressiva de apreciação da moeda brasileira.
Esse movimento de ajuste na taxa de câmbio foi mais intenso pela manhã, quando o dólar tocou na casa de R$ 5,32, ao correr até a máxima de R$ 5,3226. Já no início da tarde o dólar desacelerava e, após passar a etapa vespertina orbitando R$ 5,30, fechou o dia a R$ 5,2954, em alta de 0,36%. A moeda ainda acumula queda de 1,76% na semana e desvalorização de 5,03% neste ano.
Lá fora, com a arrancada do euro após o discurso de Lagarde, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – trabalhou em baixa firme, na casa dos 95,300 pontos. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, a moeda apresentou sinal predominantemente positivo, com alta frente o peso mexicano, o peso chileno e o rublo, enquanto recuou ante o rand sul-africano.
Para o gestor de juros e moedas da RPS Capital, Joaquim Sampaio, após a queda expressiva do dólar em janeiro, com forte fluxo de recursos externos, é difícil que haja uma nova rodada de apreciação do real. “Com os bancos centrais desenvolvidos cada vez mais ‘hawks’ (com postura mais dura) e os fundamentos locais ruins, não vejo uma entrada de recursos expressiva por parte dos estrangeiros daqui para frente”, diz Sampaio, que classifica o forte fluxo externo para ativos domésticos no mês passado como um evento pontual.
Sampaio ressalta também que a apreciação recente do real não foi fruto de um movimento “idiossincrático” que abrangeu apenas ativos brasileiros. A queda do dólar por aqui se deu em conjunto com a recuperação de divisas pares, à exceção do peso mexicano. Na esteira do discurso mais duro do Federal Reserve, investidores promoveram um rearranjo global de portfólio que favoreceu os emergentes, cujas moedas estavam em patamares atraentes.
Se não vê chance de o dólar cair muito mais no mercado doméstico, o gestor da RPS também não acredita em depreciação relevante do real, uma vez que a taxa de juros local torna muito custosa as apostas contra a moeda brasileira. “Não sou mais tão pessimista com o Brasil. Mas com crescimento baixo e juro real alto, não acredito em uma melhora grande dos ativos. Pode ter alguns pequenos ralis, mas nada consistente”, diz Sampaio.
Já o head de câmbio da HCI Invest, Anílson Moretti, aposta em manutenção do apetite de estrangeiros por ativos locais ao longo deste mês, suportado em grande parte por uma taxa de juros ainda elevada, apesar da sinalização do Copom de redução do ritmo de aperto. “Depois de vários dias de baixa, tivemos uma alta do dólar. Mas acredito que o nosso suporte de R$ 5,26 será rompido ainda em fevereiro. Depois vamos ter outro suporte em R$ 5,15”, afirma Moretti.