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Dólar sobe 0,71%, a R$ 5,2383, com exterior na véspera do payroll

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Estadão Conteúdos

Apesar de o crescimento do PIB brasileiro no segundo trimestre ter vindo acima do esperado, o real não escapou da onda global de valorização da moeda americana na sessão desta quinta-feira, 1º de setembro, marcada por tombo das commodities e aumento das apostas em ajuste mais agressivo da política monetária dos Estados Unidos.

Afora uma baixa pontual pela manhã, quando desceu até a mínima de R$ 5,1480 (-1,03%), em meio a relatos de entrada de fluxo comercial, o dólar operou em alta firme no mercado doméstico de câmbio durante toda a sessão. As máximas vieram ao meio da tarde, quando a divisa chegou a romper o teto de R$ 5,25 e tocou R$ 5,2572 (+1,07%).

No fim do dia a moeda era cotada a R$ 5,2383, avanço 0,71%. Foi o terceiro pregão seguido de alta do dólar, período em que saiu do patamar de R$ 5,03 para superar R$ 5,23, acumulando uma valorização de 4,07%.

Uma vez mais, o principal indutor da depreciação do real foi o ambiente externo, embora haja um pano de fundo de cautela com o quadro fiscal doméstico a partir de 2023, dadas as promessas que tomam conta da corrida eleitoral. Dados do setor industrial americano acima do esperado reforçaram a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), vai promover nova alta da taxa básica americana em 75 pontos-base neste mês.

O PMI industrial dos EUA medido pelo ISM ficou estável em 52,8 em agosto, contrariando expectativas de queda. Há também uma postura defensiva à espera da divulgação, na sexta-feira, 2, do relatório de empregos (payroll) nos EUA em agosto.

As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com o retorno do título de 2 anos, mais ligado a perspectiva para o aperto monetário, superando 3,5%. O índice DXY – que mede o desempenho dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – voltou a trabalhar acima dos 109,000 pontos e se aproximou dos 110,000. O euro, que vinha ensaiando uma recuperação, nesta quinta perdeu quase 1% frente a divisas americana.

As commodities voltaram a apanhar. As cotações do petróleo caíram mais de 3,5%, com o contrato tipo Brent para novembro, referência para a Petrobras, aproximando do piso de US$ 90 o barril. Fechou nesta quinta em queda de 3,43, a US$ 92,36. O minério de ferro e o cobre recuaram novamente, em meio a preocupações com a economia chinesa, após notícia de novos surtos de covid. Não por acaso as divisas de países emergentes e de exportadores de commodities, com raras exceções, se enfraqueceram ante o dólar, com destaque para o peso colombiano, o rand sul-africano e o próprio real.

Para o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, o comportamento da taxa de câmbio está muito atrelado ao ambiente externo de fortalecimento do dólar, com fatores locais ficando em segundo plano. “De manhã, houve até uma queda do dólar com a divulgação dos dados bons do PIB, mas o mercado voltou logo a acompanhar o exterior ao longo da tarde”, afirma Gusmão.

Na mesma linha, o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, observa que, com a redução do fluxo de entrada de recursos da manhã e a aceleração do dólar ante algumas divisas no exterior, a moeda passou a refletir mais precisamente o quadro e cautela com as incertezas do exterior.

O IBGE informou que o PIB brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre (na margem), acima da mediana de Projeções Broadcast (0,9%). Na comparação anual, a alta foi de 3,2%, também superior à mediana das expectativas (+2,8%). A divulgação do resultado causou uma onda de revisões das expectativas do mercado para o PIB de 2022, incluindo as de instituições como Bank of America (2,5% para 3,25%), Goldman Sachs (2,2% para 2,9%), Banco Original (2,3% para 2,6%), e Ativa Investimentos (1,0% para 2,0%).

O Banco MUFG Brasil avalia que o cenário se tornou negativo para divisas emergentes com o tom duro do Federal Reserve, a possibilidade de recessão em Estados Unidos e Europa, e crescimento abaixo do esperado na China, o que atinge os preços das commodities. Embora o diferencial entre juro externo e interno ainda beneficie operações de carry trade, o banco considera que o real deve se depreciar daqui para frente dado o ambiente externo desafiador.

“Adicionalmente, o BC brasileiro parece ter encerrado o aperto monetário. Então, novas altas pelo Fed vão reduzir rapidamente o diferencial de juros e, no curto prazo, isso pode afetar o ingresso de fluxo estrangeiro”, afirma, em relatório, o economista-chefe Carlos Pedroso e o economista sênior Mauricio Nakahodo.

Eles observam que o ambiente político interno também representa um risco para o desempenho do real, uma vez que o mercado pode começar a precificar, especialmente após a eleição, o risco fiscal, dada a postura dos líderes na corrida presidencial. “Em suma, consideramos que o atual patamar do real não é sustentável. Mantemos nosso call de R$ 5,60 no fim do ano.”