Nas mesas de operação, avalia-se que a parte mais expressiva do movimento de rotação global de portfólios (que resultou em forte fluxo de capitais para o Brasil nos dois primeiros meses do ano) pode ter ficado para trás. As bolsas americanas voltam a exibir desempenho superior ao Ibovespa, que não encontra forças para se manter acima dos 110 mil pontos. A expectativa em torno do tom do comunicado da decisão de política monetária do Federal Reserve, que deve anunciar na quarta-feira, 16, uma alta de juros em 0,25 ponto porcentual, e as incertezas relacionadas aos desdobramentos do conflito no leste europeu também contribuem para a postura mais cautelosa dos agentes.
Pesa ainda contra a moeda brasileira a percepção de deterioração dos fundamentos domésticos, com alta contínua das expectativas inflação e piora da percepção fiscal diante de propostas para subsidiar combustíveis. O presidente Jair Bolsonaro cutucou a direção da Petrobras ao dizer, nesta quarta à tarde, esperar que a empresa “acompanhe a queda do preço do petróleo lá fora” nos últimos dias. “Com toda certeza fará isso daí”, disse o presidente.
Tirando uma pequena baixa nos primeiros minutos dos negócios, o dólar trabalhou em alta ao longo de todo pregão, renovando máximas à tarde, quando atingiu R$ 5,1691. No fim da sessão, era cotado a R$ 5,1591, avanço de 0,76%. Apenas dois últimos pregões, a moeda já subiu 2,08% e, assim, passou a apresentar sinal levemente positivo em março (+0,07%). No ano, ainda tem baixa de 7,48%.
As máximas do dólar à tarde coincidiram com leve aceleração da alta do DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes – para a casa dos 99,100 pontos. Na contramão do real, a maioria das divisas emergentes ganhou força em relação ao dólar.
“O dólar sobe e a bolsa cai com um movimento forte de correção das commodities. Havia a expectativa de que a China fosse recuperar a intensidade de crescimento após a Olimpíada de Inverno, mas o país enfrenta agora novo lockdown”, diz Charo Alves especialista da Valor Investimentos, ressaltando que há também uma acomodação dos preços das commodities após a alta exponencial provocada pela guerra.
Para o gestor da Vitreo Rodrigo Knudsen, o real passa por uma correção técnica, com investidores retomando posições defensivas às vésperas da decisão do Fed. Há apreensão em torno da possibilidade de o BC americano acenar com uma postura mais agressiva daqui para frente, prejudicando o desempenho das divisas emergentes.
Pela manhã, saiu o índice de preços ao produtor (PPI) nos EUA em fevereiro, que apresentou alta de 0,8%, abaixo da expectativa dos analistas (0,9%). Já o núcleo do PPI, que exclui energia e alimentos, subiu 0,2%, ritmo bem inferior ao esperado (0,6%).
“Com os juros locais cada vez mais altos, o dólar tenderia a cair e até ficar abaixo de R$ 5, mas o momento é de correção. O mercado está buscando hedge (proteção) com essa questão do Fed e a continuidade da guerra. É um movimento mais técnico que fundamentalista”, afirma Knudsen, acrescentando que o tombo das commodities e o estresse interno em torno dos preços dos combustíveis também dão suporte aos compradores.
Por aqui, a expectativa majoritária do mercado é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncie na quarta à noite uma alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 11,75% ao ano, e deixe a porta aberta para continuidade do ciclo de aperto. Analistas avaliam que o nível expressivo da taxa real brasileira e a manutenção de um diferencial de juros interno e externo ainda elevado tendem a amenizar eventuais movimentos de depreciação do real.