A expectativa amplamente majoritária no mercado é que o BC acelere o ritmo de aperto e eleve a Selic em ao menos 1,50 ponto porcentual, para 7,75% ao ano, e que o comunicado da decisão seja duro. A tese é que um BC mais agressivo serviria de contraponto à perda da âncora fiscal, com a mudança na regra de cálculo do teto de gastos embutida na PEC dos Precatórios, que pode ser apreciada ainda no período da noite desta quarta no plenário da Câmara.
Operadores chegaram a atribuir parte da oscilação do dólar ao longo do dia a rumores sobre qual será, de fato, a postura do BC. A avaliação é que qualquer aumento da Selic inferior 1,50 ponto ou dubiedade no comunicado pode levar a taxa de câmbio rapidamente a flertar com o patamar de R$ 5,70.
Em meio a idas e vindas, no fim do dia prevaleceu o sinal negativo e o dólar fechou em queda de 0,33%, a R$ 5,5551. Depois de subir 3,16% na semana passada, a moeda americana acumulou baixa de 1,28% nos últimos três pregões. Em outubro, ainda avança 2%.
No exterior, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes – operou em leve queda ao longo do dia, na maior parte do tempo abaixo dos 94 pontos. Mas o dólar subiu em relação a divisas emergentes consideradas pares do real, como o peso mexicano (+0,53%), o peso chileno (+0,16%) e o rand sul-africano (+1,58%).
Para Thomas Giuberti, sócio da Golden Investimentos, o dólar já está em um valor “bem esticado” e reflete “prêmio de risco elevado”, dada a questão fiscal. “O BC tem o argumento perfeito agora para não ficar atrás da curva. Pode compensar os erros do passado com a decisão de subir a Selic em pelo menos 1,50 ponto com um comunicado mais forte. Isso ajudaria a segurar um pouco o câmbio”, diz Giuberti, em referência ao aumento da atratividade das taxas de juros locais para investidores estrangeiros. “Se o BC não agir agora, podemos ver o mercado estressar com mais força novamente. Tudo depende da decisão e do comunicado do Copom”.
O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, argumenta que o ideal seria um “choque maior ou igual a 200 pontos bases, com Selic mínima de 8,25%, para desacelerar o impacto do dólar e estabilizar as expectativas de inflação. Velho não vê espaço, porém, para um movimento amplo de apreciação do real, já que o risco-País (medido pelo CDS de 5 anos) está na casa de 200 pontos, por causa da piora fiscal, e haverá uma deterioração sazonal do resultado da conta corrente no quarto trimestre.
“As pressões por mais gastos públicos seguem no Congresso. Desejam aumentar o valor do fundo eleitoral, emendas parlamentares dentro da PEC dos Precatórios e ainda prorrogar a desoneração fiscal da folha de pagamentos para 2022”, afirma Velho, em relatório.
Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan News, se disse confiante na aprovação da PEC dos Precatórios e afirmou que não avaliou o eventual impacto político do Auxílio Brasil no valor de R$ 400 neste momento. “Muita gente diz para eu passar para R$ 600 que estou garantido na reeleição. Imagina se eu falo em R$ 600 do Bolsa Família, o que acontece com a bolsa e o dólar? Bagunça na economia não interessa para ninguém”.
À tarde, ao participar do programa Pânico, da rádio Jovem Pan, Bolsonaro vou a chamar o mercado financeiro de “nervosinho”. O presidente também arriscou um diagnóstico para a depreciação recente do real, ao dizer que o “Brasil está vivendo uma insegurança jurídica, aí o dólar não baixa”.
Entre os indicadores do dia, dados do Banco Central divulgados à tarde mostram que o fluxo cambial está negativo em US$ 211 milhões em outubro (até o dia 22). O saldo no canal financeiro, contudo, foi positivo em US$ 1,131 bilhão, revelando apetite dos investidores por ativos locais. Quem pesou no resultado do fluxo foi o saldo negativo de US$ 1,342 bilhão no comércio exterior. No acumulado de outubro, destaque para o resultado da semana passada (de 18 a 22 ), quando o saldo foi positivo em US$ 1,573, graças sobretudo a entrada líquida de US$ 1,160 bilhão pelo canal financeiro.