O dia lá fora foi marcado por temores de perda de fôlego da atividade global em meio a um quadro de inflação elevada, a chamada estagflação. Na China, que enfrenta um lockdown em Xangai, seu centro financeiro, índices de inflação ao consumidor e produtor vieram acima do esperado. Bolsas e petróleo caíram, com o barril tipo Brent, referência para a Petrobras, abaixo dos US$ 100 o barril. Na expectativa por um ajuste mais intenso da política monetária americana, em meio a discursos de dirigentes do Federal Reserve, a taxa da T-note de 10 anos subiu a 2,78% e o índice DXY – que mede o desempenho dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – chegou a superar os 100,00 pontos na máxima.
Por aqui, o dólar não conseguiu firmar tendência pela manhã e no início da tarde, apresentando trocas constantes de sinais, embora tenha oscilado apenas cerca de cinco centavos entre a mínima (R$ 4,6799) e a máxima (R$ 4,7399). Apesar do clima externo avesso ao risco, divisas emergentes pares do real – como o peso mexicano e o rand sul-africano – se fortaleceram.
Ao mau humor externo também se contrapôs a possibilidade de que o Banco Central estenda o ciclo de aperto monetário para além de maio e jogue a Selic para perto de 14% – o que contribui para manter a atratividade do carry trade (operações que exploram diferencial de juros entre países.
Em evento pela manhã, Campos Neto afirmou que a “inflação está muito alta”, incluindo os núcleos, e que o BC está “analisando a surpresa no IPCA para ver se muda algo na tendência”, em referência a alta de 1,62% do índice em março. O BC havia sinalizando anteriormente, tanto em documentos como em falas do próprio Campos Neto, encerramento do ciclo com alta final da Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% em maio.
Após idas e vindas, nas duas últimas horas da sessão, o dólar se firmou em baixa e rompeu o piso de R$ 4,70, para fechar a R$ 4,6904, recuo de 0,39%. A divisa acumula queda de 1,49% em abril e de 15,88% no ano.
O economista Bruno Mori atribui a máxima do dólar na sessão às incertezas em torno de uma desaceleração da economia global, espelhada na queda das commodities. A sinalização de Campos Neto de que o aperto monetário pode se estender acabou, contudo, se sobrepondo aos preocupações externas na formação da taxa de câmbio. “Com esse cenário de alta adicional de juros, o mercado precificou o dólar um pouco mais para baixo. O fluxo parece que continua positivo e deve permanecer assim por conta da taxa de juros elevada”, afirma Mori, planejador financeiro pela Planejar.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que a queda do dólar, induzida pela perspectiva de taxa Selic mais alta, poderia ter sido maior não fosse a o ambiente adverso para commodities e a alta da moeda americana. Na fala de Campos Neto, Velho destaca o reconhecimento de que a inflação ficou acima do esperado e que os núcleos estão elevados. O economista estima que, com uma taxa Selic de 13,5% no fim do ciclo de aperto, o IPCA ainda superaria 8% neste ano. “O aperto monetário deveria levar a Selic para mais de 13,75% este ano para reduzir esse risco inflacionário”, afirma.
Lá fora, as expectativas estão voltadas a divulgação, amanhã, do CPI de março, que deve ratificar o quadro de inflação elevada nos EUA. Em evento, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, defendeu hoje uma elevação da taxa básica em 50 pontos-base em maio. Sem direito a voto nas decisões de política monetária neste ano, Evans afirmou que seria interessante chegar à faixa de juros entre 2,25% e 2,50% no fim deste ano.