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Empresas testam drones para agilizar entregas

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Estadão Conteúdos

Desde novembro passado, a pequena Barra dos Coqueiros, em Sergipe, experimenta uma novidade na logística local. Sem muitas opções de restaurantes, o município, de 28 mil habitantes, localizado ao lado da capital Aracaju, virou o centro de testes do iFood para entregas por drones. A operação reduz em até 35 minutos o trajeto entre as duas cidades e passa a atender a uma nova área que antes estava fora do radar da empresa por causa do tempo. Hoje as entregas são feitas em até 15 minutos.

Os drones circulam entre dois “droneports”: um instalado no shopping RioMar Aracaju, de onde saem as comidas, e outro, em Barra dos Coqueiros. Desse espaço até a casa dos clientes, a entrega é feita em motos – sim, ainda vai demorar um bom tempo para os drones entregarem os pedidos na porta da casa das pessoas. A operação funciona de quarta a domingo, das 11 às 17 horas, e futuramente poderá ser expandida para o jantar.

“Para o iFood, cada minuto é essencial. Essa operação ajuda tanto a empresa quanto melhora a experiência do consumidor”, diz a gerente de inovação logística da companhia, Brunna Bambini. Ela conta que novas rotas estão sendo estudadas junto com a Speedbird, dona de toda a tecnologia e fabricante dos drones, e com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável pelas autorizações de voos. “Isso é só o começo. Estamos trabalhando para esse futuro virar realidade logo.”

Como o iFood, outras empresas também entraram na corrida pelas entregas por drones. O movimento foi acelerado no mês passado, quando a Anac concedeu a primeira autorização para que a Speedbird pudesse fazer operações comerciais. A certificação permite o transporte de alimentos e outros produtos de até 2,5 quilos em um raio de 3 quilômetros. As entregas podem ser feitas em área urbana, desde que não sobrevoe pessoas.

“Essa foi uma das mais importantes autorizações que tivemos. A próxima será para transporte de produtos de até 5,9 kg, que já tem certificação para voo experimental”, diz o sócio e cofundador da Speedbird, Manoel Coelho. Ele conta que, depois da autorização da Anac, o interesse das empresas pela operação teve um salto. Já são sete contratos fechados, três a serem assinados nos próximos dias e outros tantos em negociação. Até o fim do ano, Coelho estima que serão 50 operações ativas.

Meio ambiente

Uma das empresas que têm parceria com a Speedbird é a Natura. A companhia pretende usar os drones para tornar as entregas mais ágeis e seguras em locais afastados ou de difícil acesso. “A ideia é expandir a tecnologia e fazer com que ela chegue a todas as regiões do País à medida que mais rotas sejam validadas e regulamentadas”, diz o diretor de Supply Chain e Inovação Logística da Natura & Co, Leonardo Romano.

Ele explica que a ideia é usar a tecnologia para aumentar a eficiência do serviço e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de carbono. No mundo todo, diz o executivo, esse sistema tem trazido benefícios não só para a estratégia das empresas em reduzir o tempo de entrega, como também para o meio ambiente, visto que tem um baixo impacto ambiental.

“A tecnologia de drone para fazer entregas já é uma realidade em algumas partes do mundo, como Ruanda e Gana, onde as máquinas permitem distribuir doações de sangue. Em alguns outros locais também começam a ser usados para entregas de varejo, alimentos e medicamentos.”

O cofundador da Speedbird destaca que a diversidade de produtos que têm surgido para o transporte por drones é imensa. Nos últimos dez dias, afirma ele, houve interesse de empresas para movimentar sêmen de suínos, peças de telefone, amostras de minério e documentos. Entregas de bebidas também estão na lista. A Ambev tem uma parceria para estudar a alternativa com a Speedbird.

Segundo a empresa, o primeiro teste foi realizado em 2021 na cidade de Jaguariúna, interior de São Paulo. O drone tinha capacidade para transportar até 2 kg e percorreu 2 km até um condomínio de casas ao lado da cervejaria, trajeto feito em menos de 2 minutos. “De lá para cá, conseguimos evoluir no uso da tecnologia e estamos fazendo testes com drones maiores, em raios mais extensos, com voos mais longos e em outros municípios e Estados”, afirmou a Ambev.

Outra companhia que fechou contrato com a Speedbird é o Grupo Pardini. A empresa, uma rede de laboratórios, quer usar os drones para transportar amostras de exames e acelerar os resultados para os clientes. “O diagnóstico é importante e tem de ser rápido”, diz o diretor de negócios lab to lab, Fernando Ramos. Segundo ele, a empresa atende regiões com desafios geográficos importantes.

“Em Ilhabela (SP), por exemplo, um automóvel pode demorar 120 minutos para ir e voltar de balsa. Fizemos um teste com drone e gastamos 14 minutos na operação.” Nesse caso, por exemplo, é possível ter o resultado de um exame com mais de uma hora de antecedência, o que pode salvar vidas, completa Ramos. O mesmo ocorre em Itajaí (SC), onde a empresa também fez testes. Um trajeto que poderia demorar duas horas entre a cidade e o município de Navegantes por meio de ferryboat leva apenas oito minutos com o drone.

A operação do grupo, no entanto, depende de autorização específica da Anac, por se tratar de material biológico. O pedido já foi feito e a empresa aguarda o resultado. “Estamos acompanhando essa tecnologia há algum tempo e entendemos que, para o setor de saúde, será revolucionário.”

Pioneira

Por enquanto, a Speedbird é a única empresa a ter autorização da Anac para fazer a logística de entrega por drones. A startup foi criada em 2019 pelo engenheiro Samuel Salomão e o administrador de empresas Manoel Coelho. Mas o negócio começou a ser pensado alguns anos antes.

Salomão morava nos Estados Unidos e trabalhava com Coelho em uma companhia de atendimento médico a distância. Era desenvolvedor de software para telemedicina. Em determinado momento, ele decidiu estudar o mercado de entregas. Em suas pesquisas, viu que vários países estavam desenvolvendo o assunto, mas que, na América Latina, havia um vazio sobre o tema.

Foi aí que ele resolveu deixar os Estados Unidos e voltar com a família para o Brasil, em 2018. Manoel Coelho se juntou a ele em junho de 2019, depois de 26 anos morando fora do País, e criaram a Speedbird. Em pouco tempo conseguiram atrair capital, desenvolver melhor os drones e atrair mais parceiros. Em janeiro, a Speedbird conseguiu a primeira autorização da Anac para voos comerciais com drones.

A empresa também teve certificação para fazer testes em Israel. A partir de março, fará apresentações em cidades do país sobre as operações realizadas no Brasil. “É uma grande oportunidade de troca de tecnologia”, diz Coelho.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.