“O lucro líquido de 2020 não era um lucro líquido de fato vindo da operação, tinha um pedaço vindo de mudança de regra contábil, e este ano não, o lucro líquido é todo dentro da operação e se você fizer o ajuste de 2020, nosso lucro líquido subiu bastante”, disse o diretor financeiro e de Relações com Investidores da Eneva, Marcelo Habibe, ao Broadcast Energia.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 39% no período, ante o quarto trimestre do ano anterior, para R$ 842,5 milhões, alcançando o maior valor de Ebitda trimestral já da história da companhia. O Ebitda ajustado – que exclui o impacto dos poços secos -, foi de R$ 859,7 milhões, uma elevação de 39,9% na mesma base de comparação. A margem Ebitda, excluindo poços secos, alcançou 51,1% no trimestre, alta de 0,9 ponto porcentual (p.p) na base anual.
Habibe destacou que o desempenho operacional reflete a “tempestade perfeita” pela qual a companhia passou em 2021, quando foi mais demandada a gerar energia por suas termelétricas, por causa da crise hídrica, e obteve preços mais elevados por megawatt-hora, por causa da crise internacional. “O ano passado foi um ano bastante atípico: normalmente a companhia despacha entre 45% e 55% do ano e no ano passado, em função da crise hídrica, ficamos muito mais tempo ligados, superou os 70% do ano com termelétricas ligadas, e como o despacho da companhia tem uma margem positiva, isso afetou diretamente o resultado operacional”, disse.
Além do despacho elevado, beneficiou a companhia o aumento significativo do Custo Variável Unitário (CVU) das usinas, em particular a Parnaíba I, maior termelétrica da companhia, que possui receita atrelada ao câmbio e ao preço internacional do gás natural, embora tenha custo em reais. “Como o preço internacional do gás subiu muito e o câmbio também subiu no ano de 2021, isso teve impacto direto no CVU da maior termelétrica que é Parnaíba I e, consequentemente, na rentabilidade da companhia. Então, de fato para o mesmo quilowatt-hora gerado, geramos mais dinheiro porque ele foi melhor remunerado”, contou Habibe.
Entre outubro e dezembro, a receita líquida da Eneva somou R$ 1,682 bilhão, valor 37,5% maior que o observado no mesmo período de 2020.
O resultado financeiro ficou em R$ 152,2 milhões negativo, 105% maior que os R$ 74,3 milhões negativos anotados um ano antes.
Consolidado 2021
No consolidado do ano, o Ebitda da companhia também alcançou valor recorde de R$ 2,2 bilhões, alta de 37,6%, sendo que o indicador ajustado, excluindo poços secos, chegou a R$ 2,256 bilhões, 39,5% maior. A margem Ebitda ex poços secos recuou 5,8 p.p., para 49,9%
O lucro líquido atingiu R$ 1,173 bilhão, o que corresponde a um aumento de 16,4% frente o exercício anterior. Já a Receita operacional líquida cresceu 58%, para R$ 5,124 bilhões.
Ao longo de 2021, a companhia investiu R$ 1,747 bilhão, valor muito próximo do montante que a companhia possuía de caixa e equivalentes ao final do ano (R$ 1,7 bilhão).
A alavancagem, medida pela relação dívida líquida por Ebitda, era de 2,8 vezes, abaixo das 3,0 vezes do trimestre anterior e das 3,3 vezes do encerramento de 2020. A dívida líquida da companhia era de R$ 6,2 bilhões ao final de dezembro, uma alta de 18,8% na base anual.
“Foi um ano surpreendente, não somente em termos de resultado operacional, que foi o melhor, mas em possibilidades de crescimento também”, disse Habibe.
Dentre os sinais positivos de perspectivas futuras, o executivo citou o bom desempenho da campanha exploratória ao longo de 2021, com a certificação de 6,9 bilhões de metros cúbicos de gás de novas reservas, o que permitirá à companhia estender a vida útil de suas usinas ou implantar novas termelétricas. Ele lembrou também do anúncio da compra da Focus Energia, garantindo à companhia acesso a projetos solares de grande porte. E destacou, ainda, a viabilização da termelétrica Azulão I, após vencer leilão de capacidade realizado em dezembro, permitindo que a companhia replique na bacia do Amazonas o modelo “R2W” pelo qual ficou conhecida e que desenvolve na bacia do Parnaíba, que consiste na exploração da atividade de gás no local desde o reservatório até a geração de energia elétrica.
“Isso anima bastante as perspectivas desta companhia em termos de crescimento. Não é só falar – antigamente a gente tinha planos, falava, mostrava -, mas agora está se tornando realidade”, disse.