“Estamos falando de uma ambição de crescimento, pautada em uma avenida em medicina diagnóstica. Há oportunidade de crescimento porque esse mercado é fragmentado. A gente sabe que tamanho importa e ficaremos mais robustos nas negociações, teremos ganho de escala e amplitude nacional”, comenta a presidente do Grupo Fleury, Jeane Tsutsui, que assumiu o comando da companhia há cerca de um ano.
O negócio foi bem recebido pelo mercado financeiro, que acredita em ganhos para ambos os negócios com a união de ativos. As ações do Fleury subiram 16,1%, fechando cotadas a R$ 16,30, enquanto as do Hermes Pardini dispararam 18,7%, para R$ 19,97.
No fim do processo de fusão, os acionistas do Pardini se tornarão acionistas do Fleury. O principal sócio da companhia continuará a ser o Bradesco, com cerca de 20% de participação no novo negócio (o banco possui hoje quase 30% na Fleury), seguido dos médicos que ajudaram a fundar o laboratório (13%). Os irmãos Pardini (Victor, Regina e Áurea) terão 7,3% cada do capital da companhia.
Juntas, as empresas terão 487 unidades de atendimento, em 12 Estados e no Distrito Federal, e um faturamento combinado de R$ 6,4 bilhões (considerando os números de 2021). Ao todo, serão 39 marcas no portfólio da empresa, incluindo Hermes Pardini, Fleury e A+. “A prática médica é regional. Ao longo do tempo temos mantido as marcas”, afirma a executiva.
Apetite
O Grupo Fleury, que desde o ano passado tem feito aquisições em áreas adjacentes ao seu negócio principal, já tinha sinalizado o apetite de crescer em diagnósticos, quando chegou a negociar a compra da Alliar, que tem no portfólio o laboratório CDB. Mas as negociações não avançaram.
O presidente do Hermes Pardini, Roberto Santoro, afirmou que o Fleury seguirá com a estratégia de aquisições. “Ganhamos força para atuar de forma mais competitiva para seguir com a consolidação – e até com mais velocidade. Cada empresa já tem o seu mapeamento de mercado”, afirma o executivo.
Segundo Santoro, pela baixa sobreposição de laboratórios das duas empresas a expectativa é de que a análise por parte do Cade não encontre problemas. Forte em Minas Gerais, a marca Hermes Pardini será mantida ao menos por dez anos. Caso o acordo não seja aprovado por alguma das assembleias de acionistas, foi definida multa de R$ 250 milhões.
Setor aquecido
Nos últimos dois anos, o setor de saúde no Brasil viveu um momento muito aquecido. Uma das maiores transações foi entre as operadoras de saúde NotreDame Intermédica e Hapvida, que hoje vale cerca de R$ 40 bilhões na Bolsa. Outra operação emblemática foi a compra da operadora de planos de saúde Sulamérica pela gigante de hospitais Rede D’Or, dona da rede de hospitais São Luiz.
Até maio deste ano, o setor de saúde já anunciou 44 operações de fusões e aquisições, segundo dados da consultoria PwC, já chegando perto do recorde de 2021, quando foram anunciadas 56 transações.
Analista de ações da casa de análise Nord, Danielle Lopes afirma que, além da sinergia entre as empresas, elas também se complementam. “Vejo a transação como muito positiva para o setor. Já houve conversas no passado e, no atual momento de mercado, faz todo sentido.”
Segundo Sergio Goldman, chefe de pesquisa da Esh Capital, o acordo “faz todo sentido”. “Se o modelo que parece ser vencedor integra clínicas, hospitais e seguros, e se considerarmos que o Bradesco Saúde é o principal acionista do Fleury, me pergunto se a nova empresa também não vai buscar uma exposição no segmento de hospitais”, afirma o especialista. “Para mim, a mensagem principal é que a consolidação ainda está acontecendo, o setor ainda é muito pulverizado.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.