Como o sr. avalia o quadro atual de preços e a deflação pelo segundo mês seguido?
De 2020 para cá, tivemos quatro choques que não foram naturais que afetaram os preços. O choque da pandemia que foi deflacionário. O segundo choque foi o da saída da pandemia, que puxou preços para cima, como o do petróleo. O terceiro choque foi a guerra da Ucrânia, que impulsionou combustíveis e alimentos. E, agora, no Brasil tivemos um choque deflacionário, com a redução de impostos sobre serviços de utilidade pública e combustíveis. O fato de a guerra da Ucrânia entrar numa certa estabilidade e o mercado de produtos agrícolas reagir com oferta maior por conta de várias safras acabou contribuindo para o arrefecimento dos alimentos.
Qual sua previsão para a inflação no ano?
Em torno de 6%. Cheguei a projetar mais de 10%. Mas, depois das medidas de corte de impostos e da mudança do comportamento do câmbio, reduzi a projeção
A deflação veio para ficar?
Há possibilidade de termos deflação em setembro, mas, depois, a meu ver, não.
A deflação registrada em agosto, a segunda consecutiva, deve frear a intenção do BC de elevar os juros?
Não vejo razão para aumentar juros. A taxa real de juros já está positiva em relação à inflação passada: é de 13,75% ao ano para uma inflação em 12 meses abaixo de 9%. O efeito de mais uma alta seria muito pequeno.
Como explicar essa dissonância entre a deflação registrada pelos índices e o fato de a população não ter dinheiro para fazer compras no supermercado?
A situação está um pouco mais confortável, mas de jeito nenhum está normalizada. Apesar da deflação, as pessoas vão continuar sentindo desconforto entre a sua renda e os preços. É preciso um tempo suficientemente mais longo para que os preços relativos voltem ao padrão anterior ao das crises.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.