Acompanhando a cautela externa, o Ibovespa acomodou-se abaixo dos 100 mil pontos após ter recuperado em encerramento, ontem, a linha dos seis dígitos pela primeira vez desde o último dia 8. Hoje, véspera de decisão sobre juros nos Estados Unidos, os investidores seguiram tomando o pulso da atividade econômica americana por meio dos resultados trimestrais das empresas, com atenção especial para o que as companhias esperam à frente, como no alerta sobre lucros da varejista Walmart, com corte de projeções para o ano.
A empresa “emitiu novo alerta sobre desempenho no segundo trimestre, frisando que o aumento recente dos custos de energia e alimentação está pesando sobre o poder de compra do consumidor americano”, observa em nota a Terra Investimentos, acrescentando que a varejista reduziu o ‘guidance’ para os resultados nos próximos quatro trimestres.
Assim, em dia de perdas que chegaram a 1,87% (Nasdaq) em Nova York, o Ibovespa fechou em baixa de 0,50%, a 99.771,69 pontos, entre mínima de 99.364,79 e máxima de 100.753,40, saindo de abertura a 100.269,85 pontos. O giro financeiro permaneceu enfraquecido nesta véspera de deliberação do Federal Reserve, a R$ 17,5 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,86% e, no mês, 1,25%, ainda cedendo 4,82% em 2022.
“Tivemos mais dados ruins de atividade nos Estados Unidos, hoje também sobre a confiança do consumidor do Conference Board, o que reforça a visão sobre recessão. A curva americana coloca os juros dos Estados Unidos em 3,5% na virada do ano e corte a partir da metade de 2023. Se houver um pivô no discurso do Fed em direção a uma moderação de tom, menos ‘hawkish’, amanhã, pode estimular o apetite por risco”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Aqui, a semana reserva também, além dos números trimestrais da Vale, o balanço da Petrobras após o fechamento da quinta-feira, e as ações da estatal, apesar de chegarem a perder fôlego no meio da tarde, contribuíram hoje para moderar a queda do Ibovespa, em sessão amplamente negativa para as ações e os setores de maior liquidez e peso no índice. Ao fim, Petrobras ON e PN, em dia negativo para as cotações da commodity, mostravam alta de 1,44% e 1,01%, respectivamente, enquanto Vale ON cedeu 0,18%, limitando a perda em direção ao fechamento da sessão. A retração entre os grandes bancos também foi moderada ao fim, restrita a 0,69% (Bradesco PN), com BB ON em alta de 0,34% no fechamento.
A ponta de ganhos do Ibovespa foi ocupada por JBS (+2,97%) e IRB (+1,59%), logo à frente de Petrobras ON (+1,44%) e de Positivo (+1,42%), enquanto Qualicorp (-8,10%), Magazine Luiza (-6,45%) e Via (-6,35%) puxaram a fila das maiores perdas na sessão, com as preocupações emitidas pela Walmart nos Estados Unidos operando como uma ‘proxy’ do que pode estar por vir para o setor de varejo em várias outras economias, aponta a Terra Investimentos.
“Há aversão global a risco com a perspectiva de recessão, e naturalmente busca por proteção, o que se reflete na volatilidade do Ibovespa. Ficou em segundo plano a leitura, até favorável, sobre o IPCA-15”, diz Felipe Graciano, especialista em renda variável da Blue3.
Embora com poucos efeitos para a sessão, a relativa descompressão observada no IPCA-15 de julho, considerado uma prévia da inflação oficial para o mês, foi uma boa notícia doméstica. O índice teve leve alta de 0,13% em julho, a menor variação mensal desde junho de 2020, observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Contudo, no acumulado de 12 meses, a inflação ainda é alta, a 11,39%.
“No caso de transportes, tivemos uma queda mais significativa. Se olharmos os subitens, houve redução de 5,01% no preço da gasolina, 8,16% no do etanol e de 1,83% no gás veicular. Na parte de energia, com a redução de ICMS em várias regiões, os preços registraram uma variação negativa de 4,61%”, aponta Sung. Ele ressalva que o índice de difusão permanece acima de 67%, o que mostra, por outro lado, que a inflação segue disseminada.