Na B3, o bom desempenho de Petrobras (ON +0,09%, PN +0,38%), embora muito enfraquecido ao longo da tarde, foi o contraponto desde a manhã ao dia negativo para grandes bancos, especialmente Bradesco (ON -8,80%, PN -8,58%), após o balanço trimestral da instituição, divulgado na noite de ontem. O petróleo (Brent e WTI) chegou a acentuar ganhos na sessão, na casa de 1%, após os dados semanais sobre os estoques dos Estados Unidos, em queda de 4,756 milhões de barris – ao final, os preços da commodity ainda mostravam alta nesta quarta-feira, mas moderada.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Natura (+7,83%), Azul (+6,44%) e Minerva (+5,84%). No lado oposto, Bradesco ON e PN, à frente de Itaú (PN -3,98%), Via (-2,42%) e Santander (Unit -2,13%).
O Bank of America (BofA) elevou a recomendação de ações do Brasil de ‘marketweight’ (em linha com o desempenho do mercado) para ‘overweight (acima do desempenho médio do mercado), correspondente à compra. Apesar de algumas preocupações no radar, o banco considera que o País tem potencial de crescimento de lucros para este ano, avaliações relativamente atraentes e percepções de valor que tendem a continuar melhorando. A preferência dos especialistas é por ações de valor em detrimento das de crescimento.
“Há uma rotação global de ações de crescimento para as de valor, e o Brasil tem se destacado nesse movimento, como um dos poucos elegíveis entre os emergentes. Em janeiro tivemos um movimento muito rápido, que não tem como se manter eternamente. Tivemos novos entrantes no mercado, em fluxo intenso, favorecendo um câmbio de equilíbrio. O institucional (doméstico) vendeu e o estrangeiro comprou (ações), mas não dá para imaginar que continuará comprando a qualquer preço”, diz Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, que avalia que a recuperação tende a se manter por “interações” e “degraus”. “A rotação, ao que tudo indica, deve ser longa, não há sinal de que esteja para parar.”
“Em novembro, dezembro, o mercado estava abandonado”, observa Giuberti, acrescentando que o avanço da Selic contribui também para a atração de recursos externos, com o ‘carry trade’ voltando a se tornar atrativo. “O BC tem mantido tom assertivo na comunicação, ‘hawkish’, com o objetivo de não desancorar as expectativas, mostrando que atuará ‘by the book'”, diz.
Números divulgados hoje pelo BC sobre o fluxo cambial neste começo de 2022 sinalizam que parte importante do forte e inesperado volume de investidor estrangeiro na Bolsa é de recurso novo, relata Altamiro Silva Junior, repórter especial do Broadcast. Em janeiro, a B3 divulgou entrada de R$ 32 bilhões em recursos de investidores estrangeiros. Em fevereiro, até o dia 7, entraram mais R$ 6,4 bilhões, levando o fluxo no ano a R$ 38 bilhões.
O BC apontou hoje que pelo canal financeiro, que inclui a real entrada de investidores externos para, por exemplo, aplicações no mercado (ações e renda fixa), entraram US$ 5,6 bilhões, em valores líquidos. No ano, até o último dia 4, o fluxo está positivo em US$ 9,465 bilhões. Usando dólar médio a R$ 5,30, são mais de R$ 50 bilhões neste ano pelo canal financeiro, o que supera em muito o fluxo para a B3 no ano até agora.
No quadro mais amplo, as escaramuças militares entre Ocidente e Rússia sobre a Ucrânia, que vinham preocupando o mercado e impactando o preços de commodities como o petróleo, têm sido contrabalançadas por iniciativas diplomáticas entre os líderes de países diretamente envolvidos – além de Rússia e Ucrânia, notadamente França, Alemanha e Estados Unidos nesta semana.
Embora um desfecho para a crise ainda pareça longe de estar claro, hoje os mercados globais mostraram otimismo com a evolução das conversas e da retórica, além dos dados econômicos e dos sinais dos maiores BCs. “De alguma forma, reagiram mais positivamente depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, dizer que recebeu garantias do presidente russo, Vladimir Putin, de que não haveria uma escalada nas ações”, diz Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.
No front doméstico, a inflação é outro ponto de interesse. Pela manhã, a atenção se voltou para o IPCA de janeiro, desacelerando a 0,54% de 0,73% em dezembro, mas ainda assim no maior nível para o mês desde 2016, acumulando variação de 10,38% em 12 meses, após fechar 2021 a 10,06%. “O resultado não trouxe grandes surpresas, com exceção de leve queda nos preços de alguns serviços. Por outro lado, os preços de bens industriais seguem em alta acelerada, sendo responsáveis por boa parte da alta observada no mês”, aponta Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.