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Indústria vê desarranjo logístico e risco de piora em semicondutores com guerra

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Estadão Conteúdos

Junto com a escalada dos preços das commodities de energia, o desarranjo logístico, em razão das mudanças nas rotas de transporte de mercadorias causadas pela crise no leste europeu, representa para a indústria o primeiro impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia.

A percepção do risco de nova quebra no abastecimento de matérias-primas em decorrência do conflito varia de setor a setor, com as indústrias mais dependentes de insumos importados mais preocupadas do que as que se abastecem, em maior parte, com fornecedores locais.

Ao contrário da disparada das cotações das commodities, com impacto generalizado e praticamente automático no custo de produção das empresas, não há expectativa de que certos insumos comecem a faltar desde já. A situação, no entanto, pode mudar a depender da duração da invasão russa na Ucrânia.

Um dos pontos mais sensíveis está na escassez de componentes eletrônicos, há mais de um ano o principal gargalo de produção na indústria de automóveis e de produtos eletroeletrônicos.

As avaliações preliminares sobre os impactos da guerra foram apresentadas nesta segunda-feira em entrevista coletiva das lideranças da Coalizão Indústria, um grupo que representa 12 setores industriais – de brinquedos a veículos – que tem boa interlocução com o governo.

Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, a associação da indústria que produz aparelhos como notebook e celular, a guerra tem potencial de agravar a crise de falta de semicondutores, insumo fundamental na fabricação de componentes eletrônicos. Isso porque o processo de produção de chips depende de um gás derivado de siderúrgicas russas – ou seja, um subproduto – cuja purificação é realizada na Ucrânia.

“Fora o aspecto humano, do ponto de vista econômico, podemos ter o problema dos semicondutores agravado por falta de matérias-primas essenciais a sua produção”, comentou Barbato.

Esse novo entrave, complementou Barbato, não deve comprometer imediatamente a produção mundial, mas é possível que não demore muito para isto acontecer porque as fábricas, em geral, operam com estoques mínimos de materiais. “É mais uma razão para esta guerra terminar o mais rápido possível”, disse o presidente da Abinee.

O presidente-executivo da Abimaq, a associação da indústria de máquinas e equipamentos, José Velloso, disse que o fornecimento de metais não deve ser uma restrição, já que os produtores de aço nacionais suprem a maior parcela da demanda da indústria metalmecânica. “A guerra afeta os custos, mas não vemos problema de insumos para produzir aqui”, pontuou Velloso.

A ressalva dos industriais é de que a perspectiva pode mudar se o conflito se estender por mais tempo. De imediato, a reconfiguração das rotas logísticas é um dos primeiros desafios a empresas que fazem comércio exterior.

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, a entidade que representa a indústria do plástico, apontou a diminuição da frequência de navios em trajetos afetados pela guerra, um grande problema pelo impacto nos prazos de entrega. Apesar da alta nos preços, ele não vê rupturas no suprimento de combustíveis fósseis e gás natural usados na produção de plástico – a depender, claro, da duração da guerra.

Uma nova rodada de aumento no frete será, no entanto, inevitável com as cotações do petróleo em escalada. Conforme Fernando Pimentel, presidente da Abit, a associação que representa a indústria têxtil, os preços do transporte de mercadorias – que já tinham ganhado “contornos dramáticos” em decorrência das dificuldades de contratação de navios e de disponibilidade de contêineres na pandemia – provavelmente voltarão a subir.

“Permanecendo o conflito, a tendência é de repasses aos custos de frete, colocando mais lenha na fogueira na inflação mundial”, assinalou Pimentel.