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Juros: Exterior abre espaço a realização de lucros e taxas sobem

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Estadão Conteúdos

Após quatro sessões consecutivas de baixa, os juros fecharam a terça-feira, 2, em alta, em movimento de realização de lucros a partir do ambiente externo, que penalizou moedas de economias emergentes, incluindo o real. Os trechos intermediário e, principalmente, longo foram os que avançaram, em meio ainda à abertura da curva americana, com redução nas apostas de moderação na postura do Federal Reserve para a política monetária. A ponta curta pouco se mexeu, com o mercado aguardando o resultado do Copom amanhã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,785%, de 13,821% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2024 avançou de 13,26% para 13,31%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,675%, de 12,559%, e a do DI para janeiro de 2027 ficou em 12,635%, de 12,479%.

Dada a agenda doméstica reduzida à divulgação da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), a força do exterior se impôs e como a curva de juros vinha devolvendo prêmios sucessivamente desde a reunião do Federal Reserve, havia espaço para a recomposição. Mesmo com o dólar subindo desde a abertura, as taxas ainda conseguiam operar em baixa em parte da manhã, alinhadas à curva dos Treasuries, cujos rendimentos recuavam refletindo a busca do investidor pela segurança. A aversão ao risco se instalou pela confirmação da visita da presidente da Câmara dos Representantes nos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, provocando tensão geopolítica com a China.

Ainda pela manhã, porém os juros dos títulos do Tesouro americano passaram a subir, com declarações de dirigentes do Federal Reserve, e os DIs acompanharam, na medida em que também o dólar escalava. A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que o trabalho para conter a inflação “não está nem perto de concluído” e que, em sua perspectiva, “nós elevaremos os juros e os manteremos lá por um tempo”. À tarde, a presidente da distrital de Cleveland, Loretta Mester, destacou que o BC americano ainda tem “mais trabalho a fazer” para equilibrar a demanda aquecida nos EUA e, desta forma, controlar a inflação.

Como resultado, saltou de 29% ontem para 40,5% nesta tarde a chance de um novo aumento de 75 pontos-base no juro americano na reunião do Fed de setembro, segundo o monitoramento do CME Group. A possibilidade de uma alta de 50 pontos-base seguia como majoritária, em 59,5% (de 71% ontem). No fim da tarde, a taxa da T-Note 2 anos disparava a 3,06% (2,89% ontem) e a de 10 anos 2,75% (2,59% ontem). No Brasil, a aposta de alta de 50 pontos na Selic mantém-se amplamente majoritária na precificação dos DIs, com 92% de probabilidade contra 8% de chance de elevação de 25 pontos.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco, não acredita que o Copom vai encerrar o ciclo amanhã. “Os diretores devem sinalizar que, sim, o ciclo está próximo de terminar e indicar uma redução do ritmo para 25 pontos em setembro”, afirma. Segundo Rostagno, ainda não seria possível encerrar o processo dados os riscos fiscais e o próprio fato de que as expectativas para 2023 estão bastante desancoradas ante as metas de inflação. Por outro lado, o bom comportamento dos preços das commodities e os sinais de desaceleração da economia dos EUA são argumentos para uma desaceleração do ritmo, além do fato de que um aperto expressivo já foi aplicado.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o BC não deveria se comprometer para a próxima decisão, deixando em aberto uma nova elevação ou não da taxa básica de juros em setembro pelo balanço de riscos. “Vemos oportunidades na curva curta dos juros, que ainda não precifica plenamente um prolongamento da alta da Selic superior à 13,75%. Hoje, queda de -0,4% da produção industrial, próximo da mediana, foi sem impacto no mercado”, disse. O resultado da produção veio levemente pior do que a mediana das estimativas, que era de retração de 0,3% em junho ante maio.