Até porque também os dados de atividade e de inflação têm surpreendido. Após o IPCA de outubro, ontem, ficar acima das estimativas, hoje foi a vez do volume de serviços de setembro superar as previsões, sugerindo certa resistência aos efeitos da política monetária. O saldo da semana foi alta expressiva para todos os vencimentos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a sessão regular em 13,92% e a estendida em 13,97%, de 13,63% ontem, abrindo 30 pontos-base. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,05% para 13,30% (regular e estendida), e a do DI para janeiro de 2027, de 12,97% para 13,19% (regular) e 13,15% (estendida). Na semana, avançaram, respectivamente, 103, 158 e 169 pontos-base, ante os ajustes da sexta-feira passada.
A apresentação da PEC ficou para a próxima semana, provavelmente para quarta-feira, 16. A postergação chegou a dar um alívio momentâneo, na primeira etapa dos negócios, na escalada das taxas, que vêm subindo desde segunda-feira. Havia expectativa de que após a repercussão negativa nos mercados ontem, houvesse um ajuste nos números de forma a não parecer um cheque em branco para o novo governo, mas declarações dos envolvidos nas negociações ao longo da sexta-feira não autorizaram nenhum otimismo. Segundo o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), que lidera as discussões orçamentárias na equipe de transição, ainda é considerada a fixação de um prazo de quatro anos para o Bolsa Família ficar fora do teto de gastos.
Apesar do adiamento da PEC, como destaca o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, nada se comentou sobre o valor de R$ 175 bilhões para acomodar todas as despesas extrateto, valor muito elevado, de cerca de 10% do total da despesa prevista para 2022, que deve ser financiado “via dívida”, uma vez que não se fala sobre a contrapartida das receitas. Para ele, a esperança é que a Câmara barre os exageros fiscais, caso contrário, questiona, “será que o Banco Central fica confortável com a Selic no atual patamar nesse ritmo de expansão de gasto?”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu hoje que o governo precisa ter “um olho para social e também um olho para o equilíbrio fiscal”, de forma a não elevar as expectativas de inflação e desorganizar o setor produtivo. Reconheceu a forte reação dos ativos ontem, mas tentou passar uma mensagem mais serena, de que é preciso aguardar o desenho final das medidas, o que também contribuiu para tirar um pouco da pressão da curva, de forma pontual, no começo da tarde.
Ele ainda assegurou que o BC vai ajudar o máximo possível para resolver a equação entre a necessidade social e o equilíbrio fiscal. “É cedo para eu falar algo, ainda não tem um plano, é normal aumentar ruído em transição. Precisamos esperar para ver qual é a consolidação disso”, disse, em evento virtual “O Cenário Econômico e a Agenda BC#”, promovido pelo CFA Society Brazil, em São Paulo.
De todo modo, os DIs apontam Selic acima de 14% no fim deste ano e de 13,25% no fim do ano que vem, segundo cálculos da Greenbay Investimentos. Ou seja, ainda que a volatilidade do mercado esteja trazendo distorções aos preços, há apostas na retomada das altas nas próximas reuniões. A precificação de início dos cortes, que ontem era maio, agora passou para junho.
Além dos riscos inflacionários vindos da área fiscal, mais um dado forte da atividade no terceiro trimestre sugere que pode não haver espaço para alívio monetário tão cedo, uma vez que os estímulos fiscais recentes vão na direção contrária. “Uma parte do excesso do DI para janeiro de 2024 é um pouco disso”, afirmou Lima. O volume de serviços prestados subiu 0,9% em setembro ante agosto, acima do teto das previsões (0,8%).