Notícias

Notícias

Juros recuam apesar de tom duro do Copom e avanço do retorno dos Treasuries

Por
Estadão Conteúdos

O pós-Copom foi de forte ajuste em baixa nos juros, principalmente nos vértices intermediários, numa reação aparentemente contrária ao que o Banco Central pretendia com a mensagem “hawkish” no comunicado e também à sinalização emitida pelo dissenso de votos, com dois dos nove diretores defendendo aumento de 25 pontos-base na Selic. Apesar de o texto alertar sobre o risco de a Selic voltar a subir, o mercado não somente zerou as apostas de aumento para os próximos meses como ampliou o orçamento de cortes para 2023 para mais de 300 pontos-base. Além de ignorar o recado do Copom, a curva não se abalou com a escalada dos yields dos Treasuries, num dia em que também as commodities avançaram.

O destaque absoluto do dia foi o DI para janeiro de 2024, com giro de mais de 2 milhões de contratos e taxa abaixo de 13%, o que não era visto desde o último dia 12 – fechou nesta quinta em 12,785%, de 13,083% na quarta-feira. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2023 fechou em 13,675%, de 13,736% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,485% (11,737% ma quarta) e a do DI para janeiro de 2027, em 11,185%, de 11,363% na quarta.

A queda era moderada pela manhã e restrita aos vencimentos de curto e médio prazos, com o mercado limpando as apostas de alta de 25 pontos da Selic para setembro embutidas na curva depois que o Copom endossou o consenso de manutenção dos 13,75%. Os vencimentos longos, porém, eram pressionados pela instabilidade do câmbio e leilão de prefixados do Tesouro com risco bem maior para o mercado, mas depois também passaram a cair.

Passado o leilão, o rali foi ganhando força ao longo da tarde, em movimento que surpreendeu os próprios players. “É estranho esse DI janeiro de 2024 fechar tanto, pois o Copom foi ‘hawkish’ como tinha de ser e temos outros bancos centrais com discursos duros. Powell ontem foi ‘faca na caveira'”, disse a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira.

“Por mais que o BC diga que a Selic pode subir, é fato que o ciclo acabou”, disse o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, atribuindo o movimento da curva ao otimismo com o cenário de inflação, por sua vez, amparado nos preços das commodities bem comportados, na expectativa de esfriamento gerado pelos efeitos, ainda defasados, da política monetária sobre a economia e com o viés desinflacionário do exterior.

Em seus cálculos, a curva aponta apenas 2 pontos-base de alta na Selic para o fim de 2022. Para o fim de 2023, a precificação indica taxa em 10,60%, de 11,25% na quarta, ou seja o orçamento de cortes subiu de 260 para 315 pontos-base. O timing para o início do ciclo de quedas, como na quarta, segue sendo em maio.

De acordo com Serrano, o anúncio de redução dos preços do gás de cozinha pela Petrobras nesta quinta não chegou a influenciar as taxas, dado o efeito marginal sobre o IPCA, estimado pelos economistas em no máximo 5 pontos-base.

Com o mercado mais afeito ao risco, o Tesouro encontrou espaço para ampliar as ofertas de prefixados no leilão. Vendeu integralmente a oferta de 14,5 milhões de LTN e parcialmente (775 mil) o lote de 900 mil, com DV01 (risco) de US$ 616 mil, segundo a Necton Investimentos.