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Juros sobem com IPCA acima do esperado e pressão dos Treasuries

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Estadão Conteúdos

Os juros futuros fecharam a sexta-feira em alta, pressionados desde o começo dos negócios pelo IPCA acima do esperado e consequentes revisões para cima nas projeções de inflação de 2022 e 2023, que desafiam o plano de voo do Banco Central (BC) de aplicar apenas mais uma alta na Selic, em maio. As taxas curtas e intermediárias foram as mais afetadas, capturando o reforço nas apostas de elevação do juro básico nas próximas reuniões do Copom, mas as longas também subiram, em dia de novo avanço nos yields dos Treasuries.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 voltou a flertar com os 13%, fechando a sessão regular em 12,96%, de 12,756% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,156% para 12,43% e a do DI para janeiro de 2025, de 11,53% para 11,77%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,50%, de 11,30%.

O IPCA de março, de 1,62%, não somente veio bem acima da previsão mais pessimista coletada na pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,44%, como superou com larga folga a estimativa do BC trazida no Relatório de Inflação (RI), de 1,02%. Em fevereiro, havia subido 1,01%. Mesmo com pressões destacadas em combustíveis e alimentos puxando o índice cheio, a leitura dos preços de abertura foi considerada muito ruim, elevando o pessimismo dos agentes sobre a convergência da inflação para a meta no ritmo esperado pelo BC.

A surpresa negativa desencadeou uma bateria de revisões para cima no IPCA anual. O Itaú Unibanco agora espera taxa de 7,5%, de 6,5% anteriormente, para 2022 e colocou a estimativa de 2023 em 3,7%, de 3,5%. Para a Selic, manteve a expectativa de 13,75% no fim do ciclo. Algumas casas já trabalham com taxa acima de 8% este ano, caso do BNP Paribas, que projeta 8,5%, com Selic terminal de 14,25% no fim de agosto.

“O Copom fica mais pressionado a prolongar o ciclo de alta da Selic, o que explica a forte alta dos DIs e alguma oscilação do real. Nosso cenário já incluía a Selic em 13,25% até o fim do ano”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

O gestor de renda fixa da Kínitro Capital, Mauricio Ferraz, diz que o IPCA pressionou não somente os DIs mas também as taxas de inflação implícita das NTN-B e que, em função do índice, cerca de 30 pontos-base de alta da Selic este ano foram adicionados à precificação da curva. “No fechamento de ontem, a precificação de taxa terminal era de cerca de 12,90% e hoje foi para 13,20%”, disse.

Para ele, o ajuste não foi tão forte porque o mercado entende que vários inputs desinflacionários tendem a aliviar a inflação nos próximos meses, como a melhora do câmbio. Ainda segundo Ferraz, a curva também apagou as chances, que na quinta-feira já eram residuais, de início do ciclo de cortes este ano, sob a percepção de que a taxa deve manter-se elevada por um período prolongado.

A melhora do câmbio no meio da tarde – o dólar passou a cair para fechar novamente perto de R$ 4,70 – não conseguiu alterar a rota ascendente das taxas, até porque, além do IPCA, outro fator de pressão sobre a curva foi o comportamento dos Treasuries. A taxa da T-Note de 10 anos teve avanço firme, superando os 2,70%, em meio à percepção de que a política monetária do Federal Reserve será mais agressiva.