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Juros: Taxas voltam a disparar com piora do risco fiscal antes da PEC

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Estadão Conteúdos

Os juros futuros fecharam a quarta-feira, 16, em alta firme, na contramão do recuo do rendimento dos Treasuries. Durou pouco o alívio visto na segunda-feira, com o mercado hoje retomando a postura defensiva pelos sinais negativos para a política fiscal do próximo governo. Os agentes não só tiveram de se ajustar novamente ao volume de R$ 175 bilhões para os gastos extra teto esperado para a PEC da Transição, após terem trabalhado com um volume mais baixo na sessão anterior, como se frustraram com a informação de que o texto não trará detalhamento dos valores, o que compromete a previsibilidade com relação à dívida pública nos próximos anos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 voltou a rodar acima de 14%, nível não visto desde julho, fechando em 14,08% (regular) e 14,11% (estendida). A do DI para janeiro de 2025 ficou em 13,37% (regular) e 13,44% (estendida), de 13,01% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 12,79% para 13,08% (regular) e 13,55% (estendida).

A volta do feriado da Proclamação da República foi traumática para os mercados locais. Na segunda-feira, houve distensão dos prêmios com a informação, trazida pela Bloomberg, de que a equipe de transição estaria trabalhando com valor mais conservador, de R$ 130 bilhões, para a PEC, mas na mesma segunda-feira, à noite, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) mencionou o valor de R$ 175 bilhões para gastos em 2023 fora do teto. A PEC será entregue hoje (16) ao Senado, às 19h. Segundo o senador Paulo Rocha (PT-SP), que faz parte do governo de transição, a PEC, porém, não trará nem o valor total nem detalhado. “O detalhamento virá na LOA (Lei Orçamentária Anual). A previsão de valor atrelado à PEC é de R$ 175 bilhões, mas isso não vai aparecer agora”, disse.

Isso naturalmente já traria uma realização de lucros, mas os investidores tiveram, ainda, de ajustar sua percepção quanto ao tempo em que os gastos seriam excepcionalizados. O anteprojeto da PEC prevê tal tratamento de forma permanente.

Em meio a tantos ruídos, a previsibilidade com relação às contas públicas para os próximos anos vai ficando comprometida, assim como a credibilidade do governo, logo na largada, na medida em que os agentes cobram explicações sobre como a política social será financiada.

“O mercado começa a precificar como vai ficar a trajetória da dívida pública nesses próximos quatro anos”, disse a economista-chefe da Veedha Investimentos.

“O problema não é R$ 600 do Auxílio Brasil/Bolsa Família que todos entendem como necessário. Mas isso seria R$ 50 bilhões a mais fora do teto e não R$ 175 bilhões”, avalia o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro. Segundo ele, com a retirada de todo o programa do teto pelos próximos 4 anos a dívida pública, em 2023, crescerá entre 3 a 4 vezes o que cresceu nos últimos 4 anos.

Abdelmalack lembra ainda que a política fiscal expansionista gera uma pressão inflacionária via câmbio e que deve exigir um período prolongado de manutenção da Selic, hoje em 13,75%, em níveis elevados. “O mercado vai deixando de precificar cortes e pode passar até a trabalhar com retomada das altas”, comentou.