Ele observa que a inflação atual é fruto de choques de oferta. Nas suas contas, nos últimos dois anos, os preços das commodities subiram 94% em reais. Ao elevar os juros básicos, o economista destaca que, ao menos, serão combatidos os efeitos secundários desses choques sobre a economia. “Subir juros é ruim, mas é pior não subir.” A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.
A inflação persistente dificulta a tarefa do BC de trazer o índice ao menos para o teto de meta (5%) neste ano?
Vai ser difícil trazer a inflação para o teto da meta porque a eficácia da política monetária na situação atual é limitada.
Qual é essa situação?
Estamos vivendo uma situação de choques muito significativos. Nos últimos dois anos tivemos choques de commodities, super desvalorização cambial e choques climáticos no Brasil, que afetaram o preço da energia. Os preços das commodities subiram 40% em dólar nos últimos dois anos, e em cima disso houve uma desvalorização do dólar de 38%. A variação das commodities em reais foi de 94% em dois anos, e a energia elétrica subiu 21% no ano passado. É uma sucessão de fatores negativos que não têm nada a ver com a demanda. Mas, nas atuais circunstâncias, a única coisa que pode ser feita é subir os juros. Subindo os juros, ao menos, são combatidos os efeitos secundários desse choque de commodities, dólar, energia. Subir juros é ruim, mas é pior não subir.
Não há outras alternativas?
O governo não tem capacidade de articulação política para propor alternativas. Do ponto de vista da política econômica, resta fazer uma reunião dentro do BC e apertar o botão dos juros. Porque isso não envolve discussão com o Senado, o Centrão, os deputados. Esse governo gasta o seu pequeno estoque de articulação política para comprar o apoio do Centrão em detrimento do Orçamento e conseguir chegar até o final. É a estratégia da sobrevivência do próprio governo.
Qual é o impacto de uma taxa básica de juros de dois dígitos na economia?
É bastante significativo. É a maior taxa desde 2017 e encontra uma economia mais endividada: setor privado, famílias e, principalmente, o governo. Isso tem impacto fiscal, porque a despesa com juros será mais significativa neste ano. Tem impacto nas famílias e na avaliação das empresas na Bolsa. À medida que os juros sobem, o valor das empresas, que é descontado por uma taxa mais alta, cai também. Tudo isso redunda num PIB (Produto Interno Bruto) estagnado em 2022.
O que pode ser feito para romper o quadro de inflação e juros de dois dígitos e crescimento próximo de zero?
A taxa de juros vai segurar o crescimento da economia em 2022. O que se imagina é que a Selic possa ficar em torno de 12% a 12,25% ao ano e a inflação possa cair de 10% para 5%, nas projeções de hoje. Isso com um custo de um desemprego muito alto e de uma economia estagnada. Mas dá para ficar otimista, mesmo sendo economista. Se tivermos ao longo de 2022 uma discussão sobre programas econômicos e um candidato que tenha capacidade de articulação política, capacidade de gestão de programas de reformas econômicas, poderemos ao longo dos próximos quatro anos, a contar de 2023, ingressar num ciclo de crescimento da economia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.