O Estadão teve acesso a um estudo feito em conjunto pelos estúdios de análise de dados Novelo Data e Essa tal rede social, que fizeram uma varredura nas redes sociais para captar o comportamento dos usuários sobre os principais temas dos últimos dias. No caso do Twitter, a avaliação se concentrou em citações sobre o aumento dos combustíveis feitas nos dias 10 e 11 de março. Nestes dois dias, foram feitas mais de 590 mil menções sobre o preço dos combustíveis, somadas as publicações de Twitter e Facebook.
A analista de redes Carina Pensa lembra que, em toda ocasião em que a Petrobras anuncia reajustes nos combustíveis, o presidente Bolsonaro tenta transferir a culpa para algum fator que não esteja ligado a seu governo. “Durante meses, o principal culpado pelo alto preço foram os governadores e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Esse argumento, porém, se esgarçou. Por isso, além do ICMS, Bolsonaro responsabilizou os escândalos de corrupção do PT, a guerra da Ucrânia e até o Supremo Tribunal Federal.”
As estratégias, segundo a especialista, não surtiram muito efeito. Então, sem conseguir frear a onda de críticas, perfis ligados ao bolsonarismo adotaram a estratégia de disseminar que a gasolina no Brasil seria uma das mais baratas do mundo, frase que foi dita por Bolsonaro em sua “live”.
O debate sobre os combustíveis se manteve em alta, com domínio da narrativa antibolsonarista, absorvendo, inclusive, perfis que estão fora da tradicional polarização política. Uma das mensagens compartilhadas no Twitter desde a última quinta-feira, com mais de 64 mil “retweets” foi “parem de aumentar a gasolina!! eu nem tirei carteira ainda”.
Bolha
Outro tema que teve destaque nas redes na semana passada foram as manifestações contra a abertura das terras indígenas em votação no Congresso e demais pautas da área ambiental, que foram puxadas pelo evento “Ato pela Terra”, realizado pelo cantor Caetano Veloso e demais artistas em Brasília, apoiado por centenas de organizações civis.
A avaliação da Novelo Data mostra, porém, que o assunto ficou, em grande medida, restrito a perfis que já possuem posição crítica ao governo e à condução da área ambiental pelo Congresso, ou seja, não houve grande repercussão fora da “bolha” que já trata desses temas.
“A questão ambiental se mistura muito com a política. Por isso, costuma ser puxada sempre pelos mesmos atores. Vimos isso mudar um pouco com o Ato pela Terra, mas nada muito representativo”, diz Carina Pensa.
Ao analisar publicações relacionadas à exploração mineral em terras indígenas e pautas ambientais, entre os dias 8 a 10 da semana passada, a Novelo concluiu que 69% das manifestações tinham postura crítica às propostas em andamento na Câmara, enquanto 31% defendiam os projetos. “Essas menções, porém, ficaram concentradas nos mesmos atores que já têm posição conhecida. Já vimos isso em outras situações”, comenta Carina.