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‘O seguro não precisa ser chato, pode ser sexy’, afirma CEO da Porto

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Estadão Conteúdos

Perto de completar 80 anos, a ex-Porto Seguro fez a sua maior transformação da história. Desde abril, a empresa se chama somente de Porto, com a intenção de mostrar aos consumidores que deixou de ser apenas uma seguradora. Isso porque, com o crescimento de outras áreas de negócio, a participação do carro-chefe da empresa vem caindo, embora represente atualmente 67% do faturamento.

Isso não quer dizer, no entanto, que Roberto Santos, presidente da Porto, tenha deixado o principal produto da empresa de lado. Ao contrário: a ideia da companhia é fazer com que seguros sejam vistos como produtos mais populares e até mesmo “sexy”.

“O seguro pode ser pop. Acreditamos que há um espaço para isso”, afirma. “Estamos até conseguindo atrair talentos que estão vendo que o seguro não precisa ser um troço chato, mas até sexy.”

Mesmo com alta de 21,4% no lucro do primeiro trimestre, ante o mesmo período do ano anterior, as ações da companhia têm queda de quase 30% em 12 meses. “Às vezes fico um pouco incomodado porque não tenho sangue de barata, mas acredito que o mercado ainda não conseguiu enquadrar a Porto.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como foi tomada a decisão de mudar o nome da empresa para Porto?

A mudança da marca Porto Seguro e a criação de outras é uma evolução do processo de reorganização iniciado em março do ano passado, quando criamos as verticais de negócios. Com isso, ter novas marcas se tornou algo natural. E o nome Porto foi uma forma de assumirmos nosso apelido. Foi algo que aconteceu com outras empresas, como a Vale do Rio Doce que virou Vale.

É possível tirar o foco dos seguros? Afinal, é o principal negócio da empresa há décadas.

É um grande desafio, mas essa reorganização já está trazendo resultados. No primeiro trimestre, por exemplo, tivemos um crescimento acima de 21%. Se olharmos isoladamente, a área de seguros subiu 16%, enquanto o banking (setor financeiro) subiu 37% e a área de serviços aumentou 35,6%.

O crescimento vai continuar mesmo com as incertezas da economia, como inflação e juros altos?

Um país com 78% de endividamento preocupa e impacta diretamente o poder de compra da população. Ainda há muita insegurança e volatilidade em relação às eleições, o que faz pessoas e empresas segurarem investimentos. Estamos preocupados com isso. Mas o nosso crescimento segue avançando. A pandemia ajudou o setor de seguros. Ela criou um conceito de necessidade de proteção, então o seguro acabou se destacando.

Mas os sinistros também aumentaram…

Alguns indicadores mexeram com o resultado. A sinistralidade de algumas áreas aumentou, como em automóveis e seguro fiança. No caso dos carros, nem foi a questão de roubos, mas o descolamento dos preços. Já nos serviços financeiros, o cartão de crédito acabou também tendo impacto da inadimplência. Houve um aumento dos atrasos acima de 90 dias, mas ainda está em um patamar aceitável.

Vocês estão enxergando alguma melhora nesses indicadores?

Já estão melhorando, mas o nível de inadimplência voltará de maneira mais lenta. Porém, tem a incerteza com o que vai acontecer com o desemprego e o endividamento. Mesmo assim, o mercado de seguros é muito resiliente, e reagimos bem a essas questões.

A ordem, então, é ser mais conservador? O setor de seguros é conhecido por isso.

O setor passa a imagem de conservadorismo nas apólices tradicionais, mas cada vez mais o mercado tem se modificado. No produto Azul por Assinatura, por exemplo, o consumidor compra e cancela o produto quando quiser, com um valor menor, o que ajuda a atrair donos de carros mais antigos. Mas também há o lado de que há coparticipação do usuário, que recebe 90% do valor do carro. Isso dá uma liberdade ao consumidor. Tem muita tecnologia embarcada e estamos conseguindo mudar até a imagem de empresa como empregadora. Estamos até conseguindo atrair talentos que estão vendo que o seguro não precisa ser um troço chato, mas até sexy.

O seguro pode ser pop?

O seguro pode ser pop. Há espaço para isso. O Azul por Assinatura, por exemplo, foi o nosso primeiro produto nativo digital e decidimos fazer o lançamento no Big Brother Brasil.

E como ficam os corretores com o crescimento dos seguros digitais?

Antes, a visão dentro da Porto Seguro era que o nosso cliente era o corretor, e não o segurado. Então, tudo era construído para conhecer o corretor. (Mas) vimos que precisávamos conversar com os segurados também. Perguntamos para os corretores se poderíamos falar com os clientes deles e oferecer ofertas no aplicativo, por exemplo. Aí eu construo uma jornada com o cliente e ofereço produtos que ele precisa a partir da análise de dados. E ainda assim eu comissiono o corretor.

Mesmo com essas novidades, o mercado ainda está com dúvidas em relação à Porto, as ações caem 30% em 12 meses…

Não perco meu sono por causa da precificação. Não tomamos atitudes em cima do que pode acontecer na Bolsa. Às vezes fico um pouco incomodado porque não tenho sangue de barata, mas acredito que o mercado ainda não conseguiu enquadrar a Porto, pois é uma empresa além de uma seguradora.