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Para IPCA abaixo de 2 dígitos no ano, taxa de dezembro teria que ser até 0,68%

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Estadão Conteúdos

A inflação elevada no País não é resultado de uma pressão de demanda, mas, sim, de aumentos de preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como a energia elétrica e a gasolina, que geram uma inflação de custos, avaliou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,95% em novembro, a taxa mais elevada para o mês desde 2015. Como consequência, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses acelerou de 10,67% em outubro para 10,74% em novembro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano.

O pesquisador calcula que a taxa do IPCA de dezembro teria que ficar abaixo de 0,68% para não romper a barreira dos dois dígitos no ano. “Na minha conta, se for 0,68% já bate os 10%, está praticamente cravando 10%. O nosso cálculo é feito no sistema com 15 casas decimais. Se for de 0,74%, já vai para 10,07%”, disse ele.

O último ano com IPCA em dois dígitos foi em 2015, quando fechou em 10,67%. O encarecimento dos combustíveis e a cobrança extra na conta de luz pelo acionamento da bandeira de escassez hídrica pressionam a inflação no ano, aponta Kislanov. As maiores contribuições para o IPCA acumulado em 12 meses são da gasolina (2,49 pontos porcentuais), energia elétrica (1,36 p.p.), etanol (0,45 p.p.), gás de botijão (0,43 p.p.) e automóvel novo (0,42 p.p.).

Dentro do índice, a inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação – passou de uma alta de 1,04% em outubro para 0,27% em novembro. Já a inflação de itens monitorados pelo governo saiu de 1,35% em outubro para 2,30% em novembro.

A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 4,92% em outubro para 4,79% em novembro. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 17,01% em outubro para 19,22% em novembro.

Kislanov conta que houve aumentos recentes de preços de alguns serviços turísticos, “num contexto de retomada da circulação de pessoas e melhora dos índices da pandemia”, mas de forma ainda pontual.

“Não tem uma pressão por um lado de demanda efetivamente sobre os serviços”, afirmou ele, explicando que a inflação recente está atrelada a um aumento de custos. “Há esse contexto de retomada sim da demanda, mas pontual. A economia como um todo segue ainda em recuperação”, disse ele.

Kislanov lembra que os dados negativos mostrados recentemente pelas vendas do comércio, produção industrial, Produto Interno Bruto (PIB) e mercado de trabalho, através da Pnad Contínua, corroboram esse cenário de fraqueza da demanda doméstica. “Houve redução na desocupação, mas o rendimento das pessoas ainda está reduzido. Não vemos espaço ainda para uma demanda maior que motive (alta de preços de) serviços também”, explicou.

O pesquisador relatou ainda que a campanha de promoções da Black Friday impactou pontualmente alguns produtos do IPCA em novembro, com descontos em lanches de redes de fast-food, além de itens como perfumes, artigos de maquiagem e produtos para a pele. “A gente observou pontualmente em alguns itens do IPCA descontos da Black Friday”, relatou. “Esse impacto tem ocorrido mais nos últimos anos. Nós captamos ao longo de todo o mês de novembro, não só na sexta-feira (a última do mês) em si. A gente faz a coleta bem distribuída no mês. A Black Friday tem se expandido, a gente tem visto as promoções em diferentes setores”, comentou.