Analistas atribuem a resistência do real, em grande parte, aos patamares mais elevados de juros no Brasil, na esteira do aperto monetário conduzido pelo Banco Central. Além de atrair dinheiro estrangeiro para a renda fixa local, os juros altos desestimulam a montagem de posições grandes que apostam na alta da taxa de câmbio. Já teria havido também um realinhamento do dólar ao ambiente fiscal desenhado pela PEC dos Precatórios, embora o texto ainda possa ser alvo de alterações e se mantenha a indefinição sobre o Orçamento de 2022.
O head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que, desde meados de outubro, o real tem apresentado performance melhor que divisas emergentes, como o peso mexicano e o rublo, em razão do diferencial de juros interno e externo, especialmente quando se observam as taxas futuras para o fim de 2022. “Hoje, especificamente, o desempenho é melhor, na minha opinião, muito por conta da nossa vacinação. A gente está bem adiantado, ao contrário do que outros países. Isso é algo positivo do Brasil que tem que ser mostrado”, afirma.
Logo na abertura, o dólar à vista chegou a ultrapassar a casa de R$ 5,65 no mercado doméstico de câmbio, correndo até a máxima de R$ 5,6629 (1,76%). A pressão compradora foi diminuindo ainda pela manhã e a moeda americana passou a maior parte do restante do pregão rodando abaixo da linha de R$ 5,60, tendo descido até a mínima a R$ 5,5728 (+0,14%) à tarde. Segundo operadores, a rápida ascensão pela manhã atraiu exportadores e abriu oportunidades para investidores realizarem lucros.
Com uma leve recuperação no fim da sessão, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 5,5958, em alta de 0,55%. Apesar do soluço nesta sexta-feira, a moeda americana termina a semana em baixa de 0,23% e acumula perda de 0,89% em novembro, após ter subido 3,67% em outubro e 5,30% em setembro.
Lá fora, após renovar máximas ao longo da semana, o DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes – operou em queda firme, sem perder, contudo, o patamar dos 96,000 pontos. Na liquidação de bolsas e commodities (queda de mais de dois dígitos do petróleo), investidores preferiram se abrigar no iene e no franco suíço, além do tradicional refúgio no ouro.
O estrategista da Davos Investimentos, Mauro Morelli, observa que é cedo para dizer se a queda dos ativos de risco representa uma oportunidade de compra, já que não se sabe qual será a extensão dos impactos da nova variante do coronavírus sobre a economia global. É precisos saber se a transmissão é realmente mais forte e o grau de letalidade, o que depende da eficácia das vacinais existentes. “O mercado vai olhar com lupa as informações técnicas sobre a nova cepa daqui para a frente. O resto será secundário”, afirma Morelli.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a cepa B1.1.259 do coronavírus, detectada pela primeira vez na África do Sul, como uma “variante preocupante”. Segundo a OMS, essa variante, nomeada “Omicron”, possui um grande número de mutações, “algumas preocupantes”, e apresenta alto risco de reinfecção por covid-19.
Em relação ao desempenho do real, o estrategista da Davos lembra que a moeda brasileira havia se desvalorizado mais que seus pares no passado e pode estar passando por um momento de correção, até certo ponto “surpreendente” tendo em vista o tombo do Ibovespa hoje.
“O juro brasileiro está mais alto e isso estimula arbitragem entre os emergentes, com investidores comprando a moeda de juro maior e vendendo as outras. E isso pode estar ajudando o real”, afirma Morelli, ressaltando que, com a taxa de juros mais elevada, aumento o custo de oportunidade de carregar posições em dólar. “O juro segura a barra do real se não tivermos uma piora dos nossos problemas crônicos. Vamos ter uma eleição mais complicada e turbulenta no ano que vem, o que pode levar o dólar para R$ 5,70 ou R$ 5,80”.