A reação de Vera é exatamente o que os varejistas buscam ao investir em robôs e em outras novidades tecnológicas, como, por exemplo, o pagamento por reconhecimento facial e o self-checkout – caixas em que o próprio cliente registra as compras e paga, sem a necessidade de interagir com nenhum funcionário.
Com a concorrência acirrada e o avanço do comércio online, supermercados de médio porte estão apostando em inovação para criar novas experiências de compra na loja física e fidelizar clientes. No caso da rede Hirota, faz um mês que a empresa começou a avaliar o uso de robôs autônomos. O plano, segundo o diretor Hélio Freddi, é manter dois equipamentos na loja da Vila Monumento, que é a sede da empresa e funciona como uma espécie de laboratório. Nas outras 17 lojas da rede, a ideia é ter pelo menos uma unidade.
Batizado de Shyko (Chico em japonês), o robô terá tanto funções de atendimento ao cliente quanto de operação. Marcio Akamine, gerente de Tecnologia de Informação da rede, conta que, além de ajudar o freguês a encontrar os produtos na loja, ele irá capturar em seu painel dados dos clientes para posterior envio de ofertas. O Shyko também vai controlar a disponibilidade de produtos nas prateleiras – mandando mensagens online para reposição – e conferir etiquetas com os preços que estão no sistema, especialmente neste momento de inflação em alta, em que alterações de valores são constantes.
O investimento no equipamento é pequeno: R$ 60 mil, em caso de aquisição, e R$ 6 mil mensais, se for alugado da startup que inventou o robô, a Human Robotics.
O pai do robô
Fundada em 2018 pelo engenheiro francês Olivier Smadja, em Curitiba (PR), o plano inicial da empresa de robótica e inteligência artificial era desenvolver um robô autônomo para cuidar de pessoas idosas dentro de casa. “Mas, na época, não havia tecnologia pronta para isso”, diz Smadja. Hoje, no entanto, o projeto para uso de robôs como cuidadores foi retomado e ampliado para outros setores, especialmente para o varejo.
Além do Hirota, Smadja diz que duas outras redes de supermercados de porte médio – uma do interior de São Paulo e outra do Paraná – avaliam o uso de robôs autônomos em suas lojas.
Outras iniciativas
Faz um mês que o St. Marche, outra rede de porte médio, com 26 lojas em São Paulo e voltada para clientes de alto poder aquisitivo, implantou a tecnologia de pagamento por meio do reconhecimento facial.
O projeto, que está em operação em cinco lojas em caráter experimental, foi desenvolvido em parceria com a Mastercard e envolve o uso de um aplicativo que deve ser baixado no celular para cadastrar o rosto do titular e as formas de pagamento. Em sete lojas, a rede também já implantou caixas no modelo self-checkout.
Segundo Bernardo Ouro Preto, presidente do St. Marche, a intenção com a implementação desses recursos é melhorar a experiência de compra dos consumidores. Outro ponto favorável destacado pelo executivo na adoção dessas tecnologias de pagamento é a questão da segurança, pois inibe tentativas de fraude e diminui riscos de assaltos na loja.
Fidelização
Para o consultor de varejo Marco Quintarelli, sócio da AZO Negócios, todas as iniciativas do varejo de médio porte de investir em novidades tecnológicas nas lojas físicas têm endereço certo: fidelizar o consumidor e diminuir o atrito na hora da compra.
O consultor observa que os principais focos de atrito ocorrem quando o cliente não encontra o produto que procura e quando ele vai passar no caixa. “Dói mais para o consumidor ficar numa fila do caixa na hora de pagar a conta”, diz.
Além da concorrência acirrada entre as redes varejistas, Quintarelli observa que o avanço do e-commerce ocorrido durante a pandemia acelerou a transformação digital da lógica física. É neste quesito que entra o uso mais intensivo de tecnologia. “A loja física tem de criar outros atributos, outros instrumentos que gerem interesse para que o consumidor saia de casa e vá à loja.”
O que se nota é que as redes de porte médio têm sido mais rápidas para implantar mudanças tecnológicas no relacionamento com o consumidor comparadas a gigantes do setor. Dois fatores explicam, na opinião do consultor, o pioneirismo das varejistas de tamanho intermediário. Um deles é o barateamento da tecnologia, que deu a essas redes acesso a novos recursos. Outro fator é que, em empresas de porte médio, as decisões são mais imediatas. “O dono de uma rede de 20 lojas decide o que fazer e investe, enquanto numa multinacional as mudanças dependem de outras instâncias.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.