“O que Congonhas precisa, primeiramente, é a certificação da Anac, que já está em fase muito avançada. O terminal tem quase 1,9 mil metros de pista, consegue decolar tranquilamente voos para Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai) e Santiago (Chile). Vemos grande potencial para o desenvolvimento do tráfego na região, o que estamos chamando de ponte aérea da América do Sul”, afirmou Glanzmann ao Broadcast durante a assembleia e conferência anual do Conselho Internacional de Aeroportos América Latina e Caribe (ACI-LAC, na sigla em inglês), promovido em Buenos Aires.
Hoje, Congonhas já opera aeronaves com porte para voos internacionais, chamadas “narrow-bodies” – aviões de fuselagem estreita, com um corredor só -, mas para destinos domésticos, como Rio Grande do Sul, por exemplo. “Com essa nova geração de aviões, as famílias MAX, da Boeing, Airbus NEO e E2, da Embraer, conseguimos atender tranquilamente esse mercado sul-americano com voos internacionais”, disse.
De acordo com ele, a certificação de Congonhas é um processo complexo, já que o terminal está localizado numa região densamente povoada da cidade. No entanto, ele cita como exemplo bem-sucedido de internacionalização de aeroportos em regiões centrais o terminal Aeroparque, que fica dentro de Buenos Aires. “O Aeroparque funciona super bem”, afirmou. O turismo de lazer, de negócios, e até de fim de semana pode ser explorado com essa internacionalização. Voo direto para uma região central tem um valor muito grande para o passageiro, no mundo inteiro temos esse modelo.”
Congonhas já foi um aeroporto internacional até 1985, quando o aeroporto de Guarulhos foi inaugurado. A partir daí, passou a receber voos internacionais apenas da aviação executiva, o que se manteve até 2008, quando esses também foram proibidos – na esteira do acidente com o avião da TAM, em 2007, que aumentou as restrições de pousos e decolagens no aeroporto.
Glanzmann afirmou, porém, que a velocidade de implantação do plano agora depende dos investimentos da Aena. “Quanto mais rápida a Aena for, mais cedo teremos voos comerciais entre Congonhas e países da América do Sul. A companhia tem até cinco anos para fazer seus investimentos da fase 1B (investimentos obrigatórios iniciais), mas ela não precisa necessariamente esperar todo esse tempo para começar a operar voos dessa natureza, já pode antecipar.” Segundo o secretário, a espanhola terá de investir cerca de R$ 3,3 bilhões nos primeiros cinco anos da concessão.
Atratividade
De acordo com o sócio e gerente da consultoria Terrafirma, Fabio Szoke Nahas, a infraestrutura de Congonhas, hoje, já permitiria voos internacionais. “Tanto em termos de pista quanto de alcance das aeronaves, não haveria limitação para esses voos internacionais. Os aviões mais modernos conseguiriam até chegar na América Central e nos Estados Unidos, eventualmente”, diz.
No entanto, ele disse que falta interesse por parte das companhias aéreas para operar voos internacionais em Congonhas. “Quando conversamos com as companhias aéreas, essas empresas relataram enxergar Congonhas como um hub doméstico, enquanto Guarulhos, por exemplo, pode receber voos e oferecer conexões para Europa e Estados Unidos. Em princípio, do ponto de vista comercial, as aéreas brasileiras veem pouca atratividade em voos internacionais por Congonhas”, diz Nahas.
Na avaliação de Glanzmann, a internacionalização de Congonhas é um dos assuntos mais estratégicos para a aviação no pós-pandemia. “O Brasil tem pouco tráfego para a América do Sul, é muito mais doméstico e voltado para Estados Unidos e Europa. Temos um tráfego muito grande a ser desenvolvido na região.”
*A repórter viajou a convite da ACI