Com pressão maior sobre o câmbio no fim da sessão, em que o dólar à vista subiu 0,71%, a R$ 5,4851 no fechamento, a Bolsa praticamente zerou os ganhos do dia, em sessão na qual não conseguiu acompanhar ao longo da tarde o avanço firme mostrado pelos índices de Nova York.
Ainda assim, a alta de Petrobras (ON +1,67%, PN +2,19%) e das ações de grandes bancos (BB ON +4,76%, Itaú PN +2,42%) manteve o Ibovespa em terreno positivo nesta terça-feira, de desempenho ao final negativo para mineração (Vale ON -0,72%, na mínima do dia no encerramento) e majoritariamente para siderurgia (Usiminas PNA -0,38%, Gerdau PN -0,52%). Refletindo os “jabutis” incluídos na MP da crise hídrica, as ações de utilities (Eletrobras ON -1,00%, Cesp PNB -1,94%, Copel PNB -1,36%) destoaram desde cedo na B3. Na ponta do Ibovespa, destaque para Pão de Açúcar (+6,80%), Banco do Brasil ON (+4,76%) e Americanas ON (+3,81%). No lado oposto, Banco Pan (-6,40%), CVC (-5,90%) e Grupo Soma (-4,68%).
Esta terça-feira foi novo dia de ganhos para o petróleo, com o barril do Brent negociado mais perto dos US$ 83, ainda impulsionado pela decisão de segunda-feira da Opep+ de manter o gradualismo no aumento de oferta global do insumo, cujos preços têm sido em parte pressionados pela transição energética na China, que busca reduzir a dependência de carvão para melhorar o enquadramento ambiental do país.
“Ontem, a Opep+ confirmou que manteria sua produção no nível atual mesmo com a pressão de alguns países por um aumento maior da produção. Ou seja, existe maior demanda pela commodity e a decisão de não aumentar a produção se reflete no aumento dos preços”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. “Vale destacar também o ótimo desempenho das ações da Petrobras, que neste pregão renovaram a máxima do ano, com mais um dia de valorização do petróleo”, acrescenta.
Se, por um lado, a recuperação do petróleo dá ensejo à retomada de um dos carros-chefes da B3, por outro tende a acirrar dúvidas quanto ao comportamento da inflação, aqui e no exterior. “A elevação dos preços da commodity tem pressionado a inflação global, e isso acaba se refletindo nos yields dos Treasuries e na expectativa quanto à elevação de juros”, observa Henrique Zimmermann, sócio e head Nordeste da VLG Investimentos, chamando atenção também para a curva de juros doméstica, especialmente os vencimentos longos, ainda refletindo a incerteza quanto à definição de questões essenciais à evolução do quadro fiscal, como a PEC dos Precatórios.
“No mundo o que se tem hoje é uma inflação de oferta, não de demanda, em razão de dificuldades nas cadeias internacionais de suprimentos, como os semicondutores – não é uma inflação movida por crescimento econômico. O mercado está ainda pesado, de forma geral a incerteza sobre China tem segurado mais os emergentes, sem conseguir ‘performar’ como os mercados de referência”, acrescenta.
No quadro mais amplo, “há uma série de fatores de risco no radar, desde a elevação do teto da dívida nos EUA – que vem preocupando, com a falta de acordo com os republicanos, o que poderia resultar em default histórico – até o mercado imobiliário chinês, com empresas muito alavancadas, e não apenas a Evergrande”, aponta João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos, destacando o câmbio, com o dólar à vista mais perto da marca psicológica de R$ 5,50, refletindo também as incertezas domésticas sobre o fiscal.
“Inflação e juros continuam a ser fator de especulação para os investidores mundo afora, com a possibilidade de os EUA anteciparem o aumento de juros por lá. Há muito estresse nos DIs”, diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.