Notícias

Notícias

Taxas de juros zeram alta e ficam de lado, com eleição, exterior e falas do BC

Por
Estadão Conteúdos

O mercado de juros operou em dois tempos nesta quinta-feira. As taxas engataram alta firme pela manhã e no começo da tarde zeraram o sinal, oscilando com viés de baixa durante à tarde. A virada coincidiu com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, que reforçaram a percepção de que o próximo movimento na Selic é para baixo. Até então, pesavam sobre a curva as incertezas do cenário externo e desconforto, ainda que tardio, com o quadro eleitoral, nesta reta final antes do primeiro turno no domingo, 2. Em paralelo, o mercado teve ainda uma agenda doméstica carregada a digerir, mas nada que tivesse provocado reação nos ativos. O leilão de prefixados com lote menor evitou estresse adicional à curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,865%, de 12,893% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025, atualmente o mais líquido com cerca de 600 mil contratos, passou de 11,737% na quarta-feira para 11,72%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,675%, de 11,713%.

As incertezas do cenário global pesaram na etapa inicial, em meio a novas falas duras do ponto de vista da política monetária de membros do Federal Reserve e dados nos Estados Unidos que incomodaram os agentes. Na Europa, o pacote fiscal de aumento de gastos e corte de impostos no Reino Unido continua repercutindo negativamente, enquanto na Alemanha a inflação ao consumidor superou 10% em setembro, de 7,9% em agosto, em termos anuais, o que deve exigir postura firme dos bancos centrais.

No fim da manhã, a as taxas voltaram para perto da estabilidade, com viés de queda. Nas mesas de renda fixa, as falas dos membros do BC reforçaram a mensagem de que uma nova alta da Selic é bastante improvável, e para alguns deixou a impressão de que o Banco Central não estaria desconfortável com a precificação do mercado de cortes no fim do primeiro semestre.

Entre os pontos vistos como sinal de que a Selic não sobe mais, estão as menções do BC ao aperto no mercado de crédito, com Campos Neto citando o aumento da inadimplência, considerados já como efeito da política monetária. “Um pedaço do trabalho está sendo feito”, disse o presidente do BC. Chamou a atenção do mercado a afirmação de que “usando a curva do Focus com corte em junho, mostramos que a gente atinge nossos objetivos”.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, reconhece que a curva começou a zerar a alta a partir da fala sobre os cortes, mas para ele houve certa “confusão” no mercado. “A afirmação não representa nenhum tipo de ‘guide’ sobre corte da Selic. Ele apenas relatou o que acontece na Focus e foi fiel à comunicação dos documentos oficiais”, disse, acrescentando que, por se tratar de entrevista, Campos Neto foi “instigado” a comentar sobre cortes na taxa. “Teve um viés de seleção para o assunto”, completou.

A curva, segundo a Greenbay Investimentos, mantém precificação de queda da Selic a partir de maio de 2023, com taxa projetada em 11,00% para o fim do ano que vem.

Outro ponto que, na visão de Sanchez, ajudou a aliviar a curva foi o leilão de prefixados do Tesouro, com lotes menores de LTN e de NTN-F. Nas LTN, a oferta caiu de 14,5 milhões na semana passada para 7,5 milhões nesta quinta, vendido integralmente. “Especialmente o lote da 2026 foi bem menor”, disse, referindo-se ao volume de 5 milhões do papel, ante 12 milhões na semana passada.

A redução dos lotes é considerada compreensível pelo mercado, numa semana de reta final das eleições. O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, lidera há meses as pesquisas de intenção de votos à Presidência, mas só agora às vésperas das eleições os agentes parecem estar embutindo o risco eleitoral nos preços, com temores sobretudo na área fiscal de um provável governo do PT. Pesquisa realizada pela gestora Warren aponta que uma vitória do presidente Jair Bolsonaro (PL) seria o melhor cenário para os ativos de risco, de acordo com 58,4% dos agentes de mercado consultados.