Recentemente, na COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021), em Glasgow (Escócia), o Brasil ficou na posição de vilão, por causa do desmatamento da Amazônia. Como o sr. vê essa questão?
Isso não é novidade. O Brasil está como vilão há muito tempo. Para mim, essa visão tem um fundo ideológico. As viúvas do Muro de Berlim não morreram. Há também uma guerra econômica em curso. No Brasil, houve uma revolução na produção de alimentos que trouxe estabilidade e garantia para o abastecimento mundial. Mas o mundo livre não aceita que países como o Brasil se destaquem. De outro lado, a ONU e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) consideram que essa revolução que o Brasil fez é importante. Só que o grupo de Glasgow não quer reconhecer isso. Deixa a gente de lado.
Há uma percepção de que o crescimento da produção se deu e está se dando em prejuízo do meio ambiente. Como o senhor analisa isso?
É evidente que a Amazônia está sendo desmatada. Mas 90% ainda estão preservados. Ou outros 10% me preocupam. Agora, não será só proibindo o desmatamento que vamos resolver o problema. Enquanto a árvore valer mais deitada do que em pé, não há polícia, não há exército que controle o desmatamento.
Por que é tão difícil, na sua visão, controlar o desmatamento na Amazônia?
Nós temos, na Amazônia, mais de 25 milhões de pessoas famintas, com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo do País, fazendo extrativismo e ganhando dois terços do salário mínimo. Elas precisam de renda. Os países ricos ainda não se deram conta de que existe uma área tropical no globo que é faminta, miserável.
O que é possível fazer para manter a árvore em pé?
O caminho é a biotecnologia. Temos de achar pela ciência uma forma de tirar rentabilidade sem degradar o bioma. No momento em que a ciência botar a árvore em pé valendo mais do que deitada, pode tirar a polícia da floresta, porque o desmatamento vai diminuir. A ciência pode reverter isso, mas lá fora não querem escutar a ciência tropical. Acredito na ciência. Não sou cientista, mas admiro os cientistas.
Ainda não entendi, na prática, o que vai manter a árvore em pé.
A primeira forma é o uso sustentável da árvore. Hoje, temos técnicas de manejo sustentado em florestas com belíssimos resultados. Você corta a árvore que lhe interessa e dá dinheiro, planta duas ou três no lugar dela e faz o manejo. Há projetos assim no Pará, em Rondônia, em vários locais. Há vários exemplos também de piscicultura e produção sustentável de açaí, café, dendê e castanha, que dialogam com a preservação da floresta.
Agora, como manter em pé as árvores que estão lá?
Você tem de arrumar uma forma de garantir renda para a população para que, pelo menos, o trópico úmido não seja mexido. Ele não serve para plantar, para boi. Chove demais. A organização do produtor é outro problema. As cooperativas do Sul conseguem entrar na casa do consumidor europeu, asiático, porque os produtores são organizados E na Amazônia e no Nordeste a gente não tem isso.
É possível, então, aumentar a produção de alimentos de forma mais sustentável?
Sem dúvida. O mundo pode ter sustentabilidade na produção com essa tecnologia tropical. Quem vai plantar, usar os recursos naturais, tem de fazer isso com sustentabilidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.