Afora uma troca momentânea de sinal pela manhã, quando chegou a trabalhar acima de R$ 5,70, em meio à divulgação do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos em dezembro, a moeda passou o restante do dia em queda firme, renovando mínimas ao longo da tarde.
Com variação de cerca de nove centavos entre a máxima (R$ 5,7102) e a mínima (R$ 5,6203), o dólar à vista fechou o pregão a R$ 5,6315, em queda de 0,85%. Apesar da baixa na quinta e nesta sexta-feira, a moeda ainda termina a semana com valorização de 1,00%. Na B3, o dólar futuro para fevereiro caiu 0,87%, a R$ 5,66500.
Nas mesas de operação, a visão predominante é a de que havia espaço para um movimento de ajustes e realização de lucros no mercado de câmbio doméstico, já que o dólar havia experimentado uma alta rápida e expressiva nos três primeiros pregões desta semana. Na abertura do ano, investidores teriam adotado postura mais defensiva na esteira das preocupações com a questão fiscal doméstica, em razão da reivindicação de reajuste salarial pela elite do funcionalismo federal, e do tom duro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que acena com alta dos juros já no primeiro trimestre.
Teriam contribuído para a recuperação parcial do real nesta sexta as operações fechadas na quinta-feira de captação externa de Banco do Brasil (US$ 500 milhões) e Globo Comunicação (US$ 400 milhões), segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Indicador mais esperado da semana, o payroll trouxe dados mistos. A geração liquida de postos de trabalho (199 mil) ficou bem abaixo das expectativas (422 mil), mas a taxa de desemprego caiu a 3,9%, enquanto se esperava 4,1%. O salário médio por hora avançou 4,68% na comparação anual, ante previsão de alta de 4,2%.
A leitura que predominou foi de robustez do mercado de trabalho americano, que já se aproxima do pleno emprego e, portanto, autoriza o Federal Reserve a subir os juros ainda no primeiro trimestre.
Lá fora, após altas seguidas, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou em queda firme, abaixo da linha dos 96,000 pontos, muito em razão do avanço do euro, após a inflação ao consumidor na Zona do Euro subir acima do esperado em dezembro. Com raras exceções, como a lira turca, a moeda americana também perdeu valor em relação às principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities.
A despeito do alívio nas duas últimas sessões, analistas ouvidos pelo Broadcast não veem a possibilidade de uma apreciação maior do real, com a taxa de câmbio se fixando abaixo de R$ 5,60 no curto prazo. A mudança de rota da política monetária americana e a fragilidade fiscal impediriam apostas mais contundentes a favor da moeda brasileira, apesar da escalada da taxa Selic.
A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, observa que uma análise “mais profunda” dos indicadores mostra que a situação do mercado de trabalho nos EUA é positiva. “Houve queda de taxa de desemprego e alta de salário, o que significa que haverá aumento de juros nos Estados Unidos e, portanto, pressão em emergentes”, diz Consorte, ressaltando que o alívio do dólar está longe de ser uma tendência, tanto pela mudança da política monetária americana quanto pelos “imbróglios internos, que ainda estão em cena”.
Depois de servidores da Receita Federal e do Banco Central, foi a vez dos superintendentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitarem, em carta aberta, aumento salarial e mostrarem repúdio à reserva de espaço fiscal no orçamento apenas para reajuste de servidores da segurança pública.
O economista Eduardo Velho, sócio da JF Trust, vê a queda do dólar tanto lá fora quanto no mercado doméstico como um movimento pontual de realização. “As captações externas recentes são insuficientes para reverter o nível do câmbio na faixa de R$ 5,70 no curtíssimo prazo. Os fluxos para economias emergentes têm piorado em reposta ao novo cenário de investimentos com o aperto da política monetária nos EUA”, afirma.