A escalada da divisa por aqui se deu em sintonia com o avanço do retorno da T-note de 10 anos, que superou 1,86% e atingiu seu maior nível em dois anos, e do índice DXY (parâmetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes), na esteira da crescente expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) possa ser mais agressivo no processo de normalização da política monetária americana. À perspectiva de primeira alta de juros nos EUA em março somam-se agora apostas em mais de três elevações neste ano e de antecipação da redução do balanço patrimonial, o que tiraria liquidez do mercado.
Os ventos externos desfavoráveis ao real teriam se sobreposto à alta das commodities e ao fluxo de entrada de exportadores observado pela manhã, segundo operadores. Após ameaçar romper novamente o piso de R$ 5,50 na primeira etapa de negócios, quando desceu até a mínima a R$ 5,5058 (-0,38%), a moeda tocou R$ 5,5826 na máxima (+1,01%), registrada à tarde.
No fim da sessão, o dólar à vista perdeu um pouco do ímpeto altista e era cotado a R$ 5,5603, em alta de 0,61%, levando a valorização acumulada nos dois primeiros pregões desta semana para 0,85%. Mesmo assim, a divisa ainda apresenta ligeira desvalorização no mês (-0,28%). O dólar futuro para fevereiro subiu 0,60%, a R$ 5,5820, com giro de US$ 11,64 bilhões.
Segundo operadores, a paralisação de servidores públicos, que reivindicam reajuste de salário em meio à espera da sanção presidencial ao Orçamento de 2022 (cuja data-limite é dia 21 deste mês) foi monitorada, mas não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio. Aprovada no Congresso em dezembro, a peça orçamentária trouxe uma previsão de R$ 1,7 bilhão para aumento do funcionalismo. O presidente Jair Bolsonaro teria acenado com reajuste para servidores da área de segurança, o que desencadeou a onda de reivindicação entre as demais categorias.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, atribui o descolamento momentâneo do real do ambiente externo pela manhã à entrada de fluxo de recursos, que estava reprimida, e à valorização das commodities, como o petróleo. Ele ressalta que, a despeito do alívio recente, o patamar do dólar por aqui ainda é considerado elevado, o que abria espaço para uma recuperação do real.
“O mercado amanheceu com algum descolamento do DXY, mas veio a alta forte das Treasuries e o dólar passou a acompanhar lá fora, com essa expectativa de elevação de juros nos Estados Unidos”, diz Velloni. “No início do ano, falava-se em o Fed aumentar a taxa três vezes neste ano, mas alguns analistas estão falando em uma sequência de aumentos, já que a pressão inflacionária é muito forte.”
Economista e sócio da Golden Investimentos, Thomas Giuberti chama a atenção para o potencial efeito da alta do petróleo, que tem uma correlação muito alta com inflação nos Estados Unidos, sobre as expectativas em torno da política monetária americana. “O mercado está especulando que o Fed vai parar já de comprar títulos para começar a subir os juros em março. O mercado já colocou na curva de juros (americana) quatro altas da taxa de juros. As taxas dos Treasuries estão subindo e você tem um dólar mais forte”, afirma.
Pela manhã, comentou-se nas mesas de operação que as medidas do governo chinês para estimular a economia estavam contribuindo para amenizar a pressão sobre a taxa de câmbio doméstica, uma vez que, em tese, devem dar fôlego extra às commodities e, por tabela, às exportações brasileiras. Após cortar taxa de juros, o Banco do Povo da China (PBoC) informou que vai agir energicamente para estabilizar a economia e que planeja orientar instituições financeiras a expandir a emissão de crédito este ano – e usará vários instrumentos monetários para manter a liquidez do mercado.
“Pode ter fluxo de ingresso de exportadores nesta semana e sinalização de política monetária e fiscal mais flexível na China para corroborar o movimento de revalorização do real, mas com impacto pontual no mercado cambial doméstico”, avalia, em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressaltando que os fundamentos brasileiros sugerem um dólar mais depreciado. “A tendência para o trimestre é de aumento gradual do câmbio médio para uma faixa de R$ 5,60 a R$ 5,65”.