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Dólar sobe 0,72% no dia com ajustes e cautela fiscal, mas cai 1,05% na semana

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Estadão Conteúdos

Após duas sessões de queda, em que acumulou desvalorização de 2,65% e esboçou fechar abaixo de R$ 5,40, o dólar à vista encerrou o pregão desta sexta-feira, 21, em alta firme, na casa de R$ 5,45. Com pares do real entre divisas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, em rota ascendente, o tombo da moeda brasileira nesta sexta foi atribuído a um movimento natural de correção e realização de lucros. A falta de firmeza do Ibovespa ao longo da tarde, na esteira do aprofundamento das perdas das bolsa em Nova York, e a cautela com a questão fiscal doméstica teriam sido os gatinhos para um ajuste de posições.

Investidores digerem a informação de que o governo Jair Bolsonaro negocia uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para zerar tributos (PIS-Cofins) para combustíveis e energia elétrica, aliviando pressões inflacionárias em ano eleitoral. Se a proposta vingar, haveria uma forte perda de arrecadação neste ano, levando a deterioração das contas públicas. Senadores e deputados teriam admitido apoio à PEC, embora classifiquem a medida como eleitoreira, segundo apuração do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O estrategista-chefe do Modal Mais, Felipe Sichel, calcula que, segundo o Orçamento anual, a PEC dos combustíveis traria uma perda de arrecadação de R$ 68,6 bilhões, levando o déficit do resultado primário de R$ 79,4 bilhões para R$ 147,6 bilhões. “O movimento intensifica a incerteza fiscal e pode, portanto, levar ao aumento das expectativas de inflação em vértices mais longos”, afirma, em nota.

Com uma oscilação de cerca de sete centavos entre a mínima (R$ 5,4052) e a máxima (R$ 5,4739), o dólar à vista encerrou o pregão R$ 5,4553, em alta de 0,72%. Apesar do avanço desta sexta, a moeda termina a semana com queda de 1,05% e já acumula perdas de 2,16% no mês.

A recuperação do real ao longo dos últimos dias foi atribuída a um movimento forte de entrada de recursos de estrangeiros para ativos domésticos, sobretudo ações, e ao desmonte de posições defensivas de investidores estrangeiros no segmento futuro.

Uma leitura é a de que o mercado já assimilou a perspectiva de três ou quatro altas do juros americanos ao longo deste ano e agora busca retornos em países cujos ativos estavam depreciados, caso do Brasil. A expectativa é que o Fed sinalize a intenção de subir os juros em março no comunicado de sua decisão de política monetária na quarta-feira, 26.

Também se comentou durante a semana suposto efeito benéfico para o real de declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reforçou a intenção de ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como companheiro de chapa. Em tese, uma aliança de Lula com setores mais distante da tradicional pauta econômica petista diminuiria os temores de uma guinada na política econômica em eventual governo Lula.

Apesar do alívio recente, o head de câmbio da Valor Investimentos, Fernando Giavarina, ressalta que o ambiente ainda é conturbado. Ele lembra que a volatilidade ao longo da semana foi expressiva, com o dólar rodando entre 5,57 e R$ 5,37, considerando as máximas e mínimas intraday. “Houve fluxo estrangeiro para a Bolsa, mas o cenário ainda continua muito desafiador para a moeda. Temos as questões das eleições internas e a subida de juros no exterior”, diz Giavarina. “Podemos ter janelas de oportunidade para o dólar cair mais um pouco, mas é difícil vermos quedas mais significativas nos próximos meses”.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, observa, em relatório, que “o maior crescimento esperado da China” aumentou o fluxo de capitais e trouxe um alívio para as taxas de câmbio de países emergentes nesta semana, tendo o real sido o mais beneficiado.

O banco central chinês (PBoC, na sigla em inglês) informou nesta sexta que cortou também as taxas de empréstimos em linha de crédito permanente (SLFs) em 10 pontos-base a partir de 17 de janeiro. Nos últimos dias, o PBoC já havia anunciado redução das taxas de empréstimos de médio prazo (MLF) de um ano – o primeiro desde abril de 2020 -, e também a taxa de juros de contratos de recompra (repos) reversa de 7 dias, além cortes em suas taxas de juros de referência (LPRs) para empréstimos de curto e longo prazos.

Embora veja as “condicionantes” das contas externas e os termos de troca favoráveis a uma apreciação do real, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que a instabilidade política e fiscal sugerem que “o câmbio no patamar de R$ 5,40 seja mais comprador que vendedor”. Ele atribui a rápida descida do dólar para patamar inferior a R$ 5,50 ao longo da semana à reversão de posições compradas e ao fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa, em meio à valorização das commodities.