Lucchi diz que esse incremento no custo de produção agropecuária deve vir do aumento dos preços dos insumos agrícolas. “O principal insumo utilizado na agricultura é o fertilizante. Grande parte dos (adubos) vem da Rússia, que é um dos maiores produtores globais. O impacto é significativo nos fertilizantes, caso haja desabastecimento ou aumento de preço dos principais produtos”, disse o diretor da CNA, destacando que cerca de 20% dos fertilizantes do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) importados anualmente pelo Brasil vêm da Rússia.
Há efeitos também na agropecuária brasileira decorrentes do aumento dos combustíveis, em virtude do aumento do petróleo no mercado internacional pela importância energética do país. “A agropecuária brasileira está no interior do País e as distâncias são grandes. O setor é muito afetado pelo aumento do custo frete, seja pelo escoamento da produção seja pelo transporte dos insumos agrícolas. Isso também tem impacto significativo no custo de produção”, afirmou Lucchi. Ele acrescentou que o aumento do petróleo também reflete nos preços dos defensivos químicos e das embalagens.
Outro ponto citado pela CNA como item que afeta o custo de produção da agropecuária é o fortalecimento do dólar ante o real. “O dólar estava em tendência de queda e nesses poucos dias de guerra já ocorreu aumento. Como grande parte dos insumos agrícolas são importados, também pode haver aumento significativo”, afirmou.
Lucchi abordou também o provável aumento do custo de produção para o setor de proteína animal, em virtude das elevações expressivas dos grãos utilizados na alimentação animal. “O aumento das commodities certamente vai afetar o custo das cadeias pecuárias, seja avicultura ou suinocultura. O setor depende da ração”, disse o diretor técnico da CNA.
Em relação especificamente sobre os fertilizantes, Lucchi afirmou que produtores estavam aguardando o segundo trimestre para iniciar a negociação dos insumos e que diante do conflito estão buscando antecipar a compra. “Mais importante do que o cálculo da relação de troca é buscar fornecedores confiáveis que vão garantir a entrega do produto para o plantio e para assegurar os adubos para o fim do ano”, afirmou. Para ele, ainda é “cedo” para ter uma avaliação completa do quadro de abastecimento de fertilizantes ao Brasil. “Precisamos avaliar se o conflito durar por mais tempo e saber como o mercado mundial será afetado. Estados Unidos e Europa iniciam plantio em abril e maio, quando podemos ter antecipação dos problemas que a agropecuária brasileira pode ter de acordo com os problemas que enfrentarão nestes países: se conseguirão produtos e a que preços”, observou.
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