Mas a empresa enfrentou um problema comum para quem precisa investir na inovação de seu processo produtivo no Brasil. Todo o investimento em desenvolvimento do produto e na aquisição de nova área para a fábrica em Mogi Guaçu (SP) foi feito com recurso próprio, após várias tentativas frustradas de obter financiamento público. A empresa esbarrou em dificuldades como limites no teto do faturamento e burocracia nos programas para a área, explica Lucas Zancopé, gerente comercial da empresa.
Como a Montrel, que desembolsou cerca de R$ 5 milhões em seus projetos, 89% de um grupo de empresas ouvidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) também tiveram de custear programas de pesquisa e desenvolvimento em razão da dificuldade em acessar recursos públicos voltados à área de inovação.
CONTRAMÃO
O Brasil segue na contramão em relação a outras regiões, afirma Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI. “Países mais inovadores e mais desenvolvidos facilitam o acesso a recursos para alavancar a inovação, que é o principal vetor de desenvolvimento do país e das suas empresas”, diz.
A CNI ouviu 196 empresas de vários setores, entre outubro de 2021 e fevereiro deste ano. Apenas 10% delas informaram ter utilizado recursos públicos para inovação.
O resultado completo da pesquisa será apresentado no 9.º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, promovido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O evento ocorre hoje e amanhã no WTC, em São Paulo, e é aberto a todos os interessados por meio de inscrições.
“A área de inovação nunca foi prioridade no Brasil”, lamenta Gianna. Por outro lado, diz ela, a pesquisa indica que aumentou de 68% para 73% a fatia de empresas que desenvolveram produtos ou processos inovadores em 2020 no comparativo com o ano anterior. Boa parte dos investimentos foi para a formação de mão de obra especializada, outro gargalo do País.
A diretora da CNI afirma serem necessárias políticas públicas voltadas à pesquisa e desenvolvimento, assim como um marco regulatório, segurança jurídica e menor burocracia entre outras medidas.
Ela acredita, porém, que novos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, já anunciados, podem ajudar a mudar o quadro neste ano.
Outra empresa que usou recursos próprios inovação foi a Recigreen, de Itu (SP), que desenvolveu processo exclusivo para descontaminação de embalagens de cimento, argamassa, cal e gesso. Com isso, deve ampliar sua capacidade de 30 toneladas por mês para 100 toneladas.
Segundo Felipe Barbi, fundador da empresa, caso a Recigreen tivesse acesso a mais do que os R$ 500 mil investidos no projeto, seria possível processar mais do que isso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.