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Apesar de tom duro do Fed, dólar cai 1,27% de olho em acordo de paz e China

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Estadão Conteúdos

Após quatro pregões seguidos de alta firme, em que acumulou valorização de 2,96%, o dólar à vista apresentou forte queda na sessão desta quarta-feira, 16, voltando a ser cotado abaixo do patamar de R$ 5,10. A apreciação do real se deu no bojo da onda de recuperação do apetite ao risco no exterior, amparada por sinais de avanço nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. Houve também um aceno do governo chinês de medidas de estímulos ao mercado de capitais e imobiliário, o que ensejou uma recuperação dos preços do minério de ferro.

Pela tarde, logo após a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o dólar moderou o ritmo de baixa e chegou a tocar a linha de R$ 5,14. Como esperado, o BC americano subiu os juros em 0,25 ponto porcentual e acenou com novas altas. Apenas o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, tido como integrante mais duro da instituição, destoou com voto por uma elevação inicial de 0,50 ponto. O tom do comunicado do BC americano, somado à revisão das projeções de inflação para magnitude de aperto monetário, provocou pressão momentânea sobre as taxas dos Treasuries e fez com que o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – zerasse pontualmente as perdas.

Investidores recuperaram o apetite ao risco logo em seguida, em meio a declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva. O mercado absorveu com tranquilidade tanto a sinalização de Powell de altas de juros em todas reuniões do BC americano neste ano quanto a afirmação de que o balanço patrimonial começará a ser reduzido no próximo encontro.

Em linha com o comportamento da moeda americana lá fora, o dólar à vista também voltou perder força no mercado doméstico e furou o piso de R$ 5,10. No fim da sessão, a moeda americana era cotada a R$ 5,0934, em baixa de 1,27%. O dólar ainda acumula alta de 0,78% na semana, mas passou a apresentar desvalorização de 1,21% em fevereiro. No ano, a divisa perde 8,65%.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, chama a atenção para a linguagem mais dura do comunicado do Fed e, sobretudo, para as revisões para cima nas expectativas dos integrantes do BC americano para o nível dos juros nos próximos anos.

A mediana das projeções para os Fed Funds em 2022 subiu de 0,9% para 1,9%. No chamado gráfico de pontos, sete dirigentes preveem, contudo, juro em pelo menos 2% ao fim de 2022. Para 2023, a mediana saltou de 1,6% para 2,8%. Cinco integrantes do Fed projetam juro acima de 3% no fim do ano que vem.

“Olhando para 2023, o comitê vê uma taxa de juros acima da neutra, o que sinaliza uma política monetária ligeiramente contracionista. O Fed já admite que deve fazer mais nesse ciclo de alta de juros”, afirma Lima.

Para o economista da Western, o tropeço recente das commodities, ocasionados pelas restrições impostas na China após novo surto do coronavírus, não altera o quadro de preços elevados de matérias-primas agrícolas e metálicas – o que, em tese, tende a dar certa sustentação ao real.

Lima vê a taxa de câmbio oscilando em uma faixa entre R$ 5,00 e R$ 5,20, caso o Brasil não faça uma “grande besteira fiscal” daqui para frente. “Temos os riscos globais, com a guerra na Ucrânia e os movimentos do Fed. Mas o nível do dólar vai depender muito de fazermos as coisas certas para o fluxo estrangeiro continuar”, afirma Lima, ressaltando que, após o movimento de realocação global em janeiro e fevereiro, a entrada de recursos para ativos domésticos tende a se normalizar.

Dados do Banco Central mostram que, em março, até o dia 11, o fluxo cambial total foi positivo em US$ 2,649 bilhões, graças à entrada líquida de US$ 3,081 bilhões via comércio exterior. Pelo canal financeiro houve saída líquida de US$ 432 milhões no período.

No acumulado do ano (até 11 de março), a conta financeira exibe entrada líquida de expressivos US$ 8,526 bilhões, sendo o principal responsável pelo fluxo total positivo de US$ 10,482 bilhões em 2022.

Na contramão da maioria dos analistas, o sócio e estrategista-chefe da Inv., Rodrigo Natali, avaliou a decisão do Fed como “dovish”, dada a opção por uma postura mais gradualista, de uma alta inicial dos juros em 0,25 ponto porcentual. “Acho que o mercado fica em festa até amanhã e depois cai na realidade de novo. O grande problema é a inflação e o custo de fazer as coisas depois é sempre maior”, diz Natali, ressaltando que o mercado parece complacente com os riscos, dado que a guerra na Ucrânia ainda não terminou e que o mundo está apenas no “começo de um longo período de incertezas monetárias”.

Para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), ainda no período da noite desta quarta, a expectativa majoritária é de alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 11,75% ao ano, com manutenção de porta aberta para novas elevações.