As cotações internacionais do barril do petróleo voltaram a se firmar acima de US$ 100, em meio a declarações de autoridade russas de que, diferentemente do que foi ventilado na quarta-feira, não houve avanço nas tratativas de cessar-fogo com a Ucrânia.
Com mínima a R$ 5,0303 (-1,24%), a moeda encerrou o pregão a R$ 5,0343, em queda de 1,16% – o que leva as perdas acumuladas em março para 2,35%. Em 2022, a desvalorização é de 9,71%.
Em baixa em relação à maioria de divisas emergentes e de exportadores de commodities, o dólar também cai frente a moedas fortes, em especial o euro. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christiane Lagarde, disse hoje que serão tomadas as “medidas necessárias” para lidar com as consequências da guerra.
Além disso, analistas ponderam a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, na quarta-feira amenizou o tom duro do comunicado da instituição, que trouxe revisão para cima das expectativas de inflação e juros. Powell prometeu elevações da taxa básica em todas as reuniões do Fed neste ano e acenou com redução do balanço patrimonial da instituição.
“A questão da China reforçar que vai utilizar instrumentos de estímulo para sustentar a economia puxa as commodities e joga o dólar para baixo. Além disso, apesar de acenar com altas sucessivas dos juros, Powell deu a entender que não vai haver um choque monetário agressivo”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.
O diretor de tesouraria do Banco Fator, Bruno Capusso, observa que, embora tenha dito que vai dispor de todos os mecanismos para trazer a inflação à meta, Powell sinalizou que adotará uma postura moderada. “Ele passou tranquilidade ao mercado dizendo que não vai fazer dada diferente do combinado e que o passo vai ser de 0,25 por reunião”, afirma Capusso, acrescentando que mesmo a redução do balanço patrimonial da instituição (que significa tirar dinheiro do sistema) se dará de uma maneira comedida. “Ele deixou claro que não vai usar uma arma muito poderosa sem uma avaliar a situação muito bem antes.”
Por aqui, o comunicado controverso do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Selic em 1 ponto porcentual, para 11,75% ao ano, e prometeu repetir a dose em maio não chegou a ser determinante na formação da taxa de câmbio. Mesmo tido como “dovish” por parte dos analistas e ensejado algumas revisões para baixo a magnitude do ciclo de aperto monetário, a Selic terminal deve ficar por volta de 13%. Isso garante uma taxa de juros projetada 12 meses a frente muito atraente e um diferencial entre juros externos e internos elevado, o que estimula entrada de capital estrangeiro.
Para Capusso, do Banco Fator, o movimento mais forte de rotação global de carteiras, que resultou em entrada expressiva de recursos estrangeiros em janeiro e fevereiro, ficou para trás – o que diminui em muito a probabilidade de o dólar furar de forma consistente o piso de R$ 5,00. De outro lado, avalia, a tendência de alta dos preços das commodities e o diferencial de juros elevado servem de “barreiras” que protegem a moeda brasileira. “Teria que haver algo muito extraordinário para uma desvalorização muito grande do real”, afirma Capusso, ressaltando que a alta de 1 ponto porcentual da Selic prometida pelo Copom para a próxima reunião equivale a boa parte de todo aumento de juros nos EUA ao longo deste ano.
Velho, da JF Trust, observa que o ambiente continua muito positivo para operações de “carry trade” (que exploram o diferencial de juros entre países), o que, ao lado da alta das commodities, dá sustentação ao real. Ele pondera, contudo, que é improvável uma entrada tão grande de recursos como a vista no primeiro bimestre. “A expectativa de juro perto de 13% ajuda a segurar o dólar. Mas não se espera nenhuma novidade positiva dos fundamentos da economia que faça entrar mais capital. Ainda existe preocupação de fiscal com mais benesses sociais do governo. E isso deve aumentar com as eleições se aproximando”, diz o economista.