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Empresas tentam segurar repasse de custos para não perder vendas

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Estadão Conteúdos

A inflação alta e descontrolada vai atrasar o plano de investimento em novos produtos, na melhora do processo produtivo e em mais equipamentos na Fluid Feeder, fabricante de sistemas para tratamento de água e efluentes de São Paulo.

O orçamento para o aporte deste ano foi feito em 2021 com base na projeção de inflação na época, na casa de 5% – bem diferente do índice atual. Em abril, o IPCA-15 chegou a 12,03% no acumulado de 12 meses, a maior taxa nesse comparativo desde novembro de 2003, quando foi de 12,69%.

“Todas as matérias-primas subiram muito nos últimos meses, como aços carbono e inox, latão e cobre, o que impactou nos nossos custos”, diz Francisco Carlos Oliver, diretor comercial da Fluid Feeder. “Com a redução de margens e resultados financeiros abaixo do esperado, vimos que o investimento que gostaríamos de fazer vai ter de esperar.”

Outro reflexo do aumento da inflação está no planejamento de entrega dos produtos. Com a alta do preço do frete, algumas empresas têm optado por não arcar com esse custo, já que o preço combinado na compra pode não ser o mesmo na data da entrega.

O copresidente da indústria de papel cartão Papirus, Amando Varella, afirma que antes adotava a modalidade CIF, em que a responsabilidade do frete fica com o fornecedor. Mas, com as constantes altas, tem escolhido o FOB, em que essa responsabilidade é do cliente. “Hoje não temos condições de manter e bancar esse aumento.”

Mas, segundo ele, essa mudança tem um lado negativo, que é a perda de controle do fluxo da fábrica. Na modalidade FOB, o cliente busca a mercadoria quando quiser. “Isso eleva a insegurança na retirada do produto e pode travar o fluxo da fábrica. A logística interna é prejudicada.”

PRESSÃO

Segundo Varella, o cenário de incerteza de preços é um dos piores para o dia a dia das empresas. Quase todos os itens da produção subiram. Além da celulose e do frete, os reagentes químicos importados estão sob pressão por causa de problemas no abastecimento, a energia elétrica disparou e a mão de obra também subiu. “Nossa matriz de custos está pressionada e isso gera aumento de preços.”

Na BottomUp Telemetry, indústria eletrônica de sistemas de IoT de Recife (PE), contratos para a compra de itens para telemetria, rastreamento e sensores são fechados com dois anos de antecedência. Alterar os preços agora é difícil. Os clientes são integradores que prestam serviços para o setor público.

Frederico Braga, sócio da empresa, diz que, por enquanto, a empresa opera com equilíbrio financeiro, mas se prepara para uma eventual negociação com o sindicato dos trabalhadores, que estão numa “situação crítica” porque os salários reajustados no início do ano estão perdendo rapidamente o poder de compra.

“Vamos ter de conversar e encontrar um caminho, pois, como não consigo repassar os preços, vai ser complicado aumentar salários.” A empresa tem grande parte de sua matéria-prima importada e, apesar da melhora cambial, ainda sofre com o que Braga chama de “inflação da pandemia”, que resultou em preços de chips quatro vezes maiores do que em 2020, e os de logística até oito vezes superiores.

Mesma situação vive a indústria de calçados infantis e infantojuvenis Kidy. Apesar da alta no preço da matéria-prima, a empresa ainda não repassou o custo. “O mercado está sensível a alterações de preços. Montamos uma estratégia ousada de segurar os preços para ganhar mais mercado”, diz Sérgio Gracia, sócio da empresa.

Segundo ele, a preocupação com a alta dos preços é provocar a queda do poder de compra dos consumidores e isso repercutir no recuo das vendas. “Que sejamos os últimos a aumentar os preços.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.