A diferença desse projeto para outros de entrega rápida oferecido por plataformas concorrentes é que não são usados estoques exclusivos para o e-commerce, as chamadas dark stores. As entregas partem de lojas que já existem: o que tem vantagens e desvantagens.
Para Cristina Alvarenga, head da Cornershop no Brasil, o fato de ter um varejista como parceiro faz com que a companhia não tenha de se preocupar com atividades que não são suas especialidades, tais como procurar pontos de locação para construir estoques e formar a gama de produtos ideal para a região. Do lado do Carrefour, segundo James, a vantagem é não ter de arcar com custos de ter motoboys parados nas lojas esperando por chamados, bem como com toda a tecnologia que envolve um aplicativo de entregas.
Por outro lado, ambas as empresas tiveram de se adaptar a usar um espaço inicialmente pensado para compras do cliente, de modo a usá-lo como um micro centro de distribuição, no qual os funcionários possam separar rapidamente os produtos e liberá-los para a entrega. Nessa adaptação, Alvarenga conta que a Cornershop teve de adicionar tecnologia ao processo para que o pedido demorasse menos tempo para chegar aos funcionários que têm a missão de preparar o pacote do cliente. Assim, sobra mais tempo para esse processo, que, se fosse feito em um dark store, seria mais rápido.
Já as lojas do Carrefour que passaram a integrar o programa, tiveram de adicionar um funcionário à folha para dar conta de servir os clientes da loja física e das compras rápidas digitais. James explica que esse modelo ainda não está fechado e que é possível atingir mais eficiência sem ter de aumentar o número de funcionários por estabelecimento.
Para ambas as empresas esse ainda é um período de investimento. Aliás, o comércio eletrônico não costuma ser grande fonte de rentabilidade quando operado nesse nível de rapidez e com produtos de baixo valor agregado. O foco nesse tipo de operação é conseguir que o cliente volte a comprar pela plataforma muitas vezes e em diferentes formatos: compras maiores e com mais tempo de entrega ou mesmo de forma presencial. A rentabilidade vem dessa combinação e da escala.
“O nosso objetivo é de rentabilidade, mas não agora, a curto prazo, em piloto de três meses. Existe um investimento do nosso lado para que consigamos colocar a operação de pé. Ele já tem chegado a um nível de ‘units per order’ (margem de contribuição por pedido) em linha com o que esperávamos para essa etapa e com potencial de melhoria à medida que o projeto escala”, diz Alvarenga, da Cornershop.
Em outras operações de conjuntas entre as duas empresas fora do país, esse caminho de rentabilidade tem evoluído, conta a executiva. O Carrefour e a Uber são parceiros em nível global para a entrega de compras, independentemente da modalidade de entregas. Na França, são mais de 1.100 lojas Carrefour disponíveis no Uber Eats (bandeira que foi descontinuada no Brasil), em cerca de 200 cidades, com mais de 6 mil produtos à disposição. Na Espanha, a parceria foi lançada no primeiro semestre de 2022 e conta com mais de 100 lojas em mais de 50 cidades. Lá o objetivo, ao longo do ano, é expandir a oferta para incluir cerca de 150 lojas adicionais Carrefour Express e Carrefour Market no país. Carrefour e Uber Eats têm também parcerias na Itália, Bélgica e Taiwan.
No Brasil, a operação-piloto de entrega rápida oferece entre 2 mil e 3 mil produtos aos clientes a cada loja e os produtos frescos correspondem a 30% dos itens pedidos. Além disso, a parceria com o aplicativo da Cornershop para entregas em tempos maiores se expande para as bandeiras Carrefour Hiper, Carrefour Bairro, Atacadão, Carrefour Drogaria, Big, Nacional, Big Bompreço, Maxxi, SAMs, Super Bompreço e Todo dia. Ao todo, são mais de 250 lojas disponíveis no aplicativo, em cerca de 100 cidades brasileiras.