Já em alta superior a 1% na abertura, o dólar escalou rapidamente e tocou R$ 5,30 ainda pela manhã. Ao longo da tarde, houve um refresco, com divisa oscilando entre R$ 5,27 e R$ 5,29. Nos minutos finais do pregão, contudo, o dólar voltou a escalar e fechou a R$ 5,3029, a máxima do dia, em alta de 3,01% – a maior valorização no fechamento desde 22 de abril deste ano, quando subiu 4%. Com a arrancada desta segunda, as perdas da moeda americana em outubro passaram a ser de apenas 1,70%.
Analistas observam que as perspectivas para o real nesta data já eram negativas em razão das perdas em bloco de divisas emergentes e de países exportadores de commodities frente à moeda americana, em razão de dados ruins da economia chinesa (balança comercial e venda de moradias). Aumentam as preocupações com o futuro do gigante asiático após o Congresso do Partido Comunista Chinês resultar em mais concentração de poder nas mãos do presidente Xi Jinping, considerado mais hostil ao Ocidente.
Os ventos externos ruins foram turbinados por aqui pelo quadro político conturbado com o episódio envolvendo o aliado do presidente Jair Bolsonaro e ex-deputado federal Roberto Jefferson, que, em um primeiro momento, resistiu à ordem de prisão expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e atacou policiais federais com tiros e granadas. A leitura nas mesas de operação é que o entrevero é prejudicial à campanha de Bolsonaro e pode frear a tendência de crescimento das intenções de voto do presidente identificada nas últimas pesquisas eleitorais.
Foi senha para que investidores retomassem posições defensivas e se aproveitassem para realizar lucros acumulados recentemente na Bolsa, sobretudo em papéis de estatais, como Petrobras e Banco do Brasil, que haviam disparado com a perspectiva de reeleição de Bolsonaro. O episódio envolvendo Roberto Jefferson aviva temores de que haja uma reação violenta de apoiadores do presidente em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Essa questão política descolou a Bolsa lá de fora, com queda de Petrobras e Banco do Brasil, e bateu também no câmbio. Esse caso do Roberto Jefferson provoca ruído e faz o mercado entender que Bolsonaro pode ter dificuldades na reta final da campanha”, afirma o diretor de produtos da Venice Investimentos, André Rolha. “Temos também uma questão técnica. O real e a bolsa tinham andando bastante, com o dólar beliscando R$ 5,15. Havia espaço para um ajuste”.
Em relação a divisas fortes, o dólar teve um comportamento misto: leve baixa em relação ao euro e alta na comparação com o iene, apesar de rumores de intervenção do Banco do Japão (BoJ), e a libra esterlina. Os efeitos positivos da ascensão do ex-ministro de Finanças Rishi Sunak ao cargo de primeiro-ministro, que deve ser confirmada na terça, já teriam sido embutidos nos preços. Dado esse jogo de forças, o índice DXY operou a maior parte do dia em leve queda, no limiar dos 112,000 pontos.