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Dólar sobe 0,65% e fecha R$ 5,3788 apesar de leilão extra de swap cambial

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Estadão Conteúdos

O dólar à vista iniciou a semana em alta, flertando com o patamar de R$ 5,40, diante de um ambiente externo desafiador, marcado pela proximidade da redução de estímulos monetários nos EUA, crise energética e cautela com os problemas de solvência da incorporadora chinesa Evergrande. No front doméstico, ainda pesa sobre o mercado a preocupação com o andamento da pauta econômica do Congresso, em meio à tramitação da PEC dos precatórios e da reforma do Imposto de Renda, essenciais para pôr em pé o Auxílio Brasil.

Afora uma queda expressiva na primeira hora do pregão, em resposta ao leilão extra de swap cambial do Banco Central ligado ao overhedge dos bancos, o dólar trabalhou em alta durante toda a sessão, renovando máximas ao longo da tarde.

Houve certa apreensão nas mesas de operação em meio ao anúncio inesperado de entrevista coletiva da Petrobras, às 16h30, para falar de preços de combustíveis. Mas o presidente da empresa, Joaquim Silva e Luna, descartou a possibilidade de qualquer mudança na política de preços, o que ajudou o Ibovespa a ganhar tração e arrefeceu um pouco a pressão sobre a taxa de câmbio no fim dos negócios.

Com mínima de R$ 5,3084 (-0,66%) e máxima a R$ 5,3883 (+0,83%), o dólar encerrou o dia em alta de 0,65%, a R$ 5,3788 – maior valor de fechamento desde 23 de agosto (R$ 5,3820). Em setembro, a moeda americana já acumula valorização de 4%.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operava em alta de quase 0,40%. Entre as moedas emergentes, o dólar subia 0,20% em relação ao peso mexicano e trabalhava ao estabilidade na comparação com o rand sul-africano, ambos considerados pares do real. A moeda americana recuava em relação à lira turca (que se depreciou bastante na semana passada) e ao rublo.

Anunciada na sexta-feira, após o fechamento do mercado, a oferta extraordinária de swap cambial agradou o mercado, já que pode ajudar a conter a volatilidade e suavizar a trajetória da taxa de câmbio. Mais do que o instrumento escolhido e o volume ofertado (US$ 700 milhões por leilão, sempre as segundas e quartas), chamou a atenção o ‘timing’ da intervenção do BC, que era esperada inicialmente apenas no fim do ano.

Na avaliação do gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie, uma das hipóteses para esse adiantamento seria o desejo do BC de tentar arrefecer a alta do dólar e, por tabela, amenizar as pressões inflacionárias.

“O que vimos neste primeiro dia de oferta adicional foi que o efeito sobre a taxa de câmbio durou muito pouco. Precisamos ver se essa atuação vai conseguir realmente suavizar as pressões sobre o dólar”, afirma Alessie, para quem a moeda brasileira deveria estar mais perto de R$ 5,10 por conta do movimento de aperto monetário, mas acaba sofrendo com as questões políticas e fiscais domésticas.

No primeiro leilão extra, o BC vendeu nesta segunda-feira pela manhã a oferta total de 14 mil contratos de swap cambial (US$ 700 milhões). Além disso, houve a rolagem de outros 15 mil contratos (US$ 750 milhões) com vencimento programado para dezembro.

Para o economista chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, o mercado já esperava que o BC atuasse para atenuar tanto a volatilidade quanto uma depreciação maior do real, que pode respingar na inflação. “O mercado parcialmente entendeu que o BC interveio não só para o ‘overhedge’, mas também porque quer ser cauteloso na alta de juros, dado o cenário de crescimento menor no mundo”, afirma Miraglia, para quem o câmbio nominal, dado efeito da inflação passada, mudou de patamar e dificilmente ficará abaixo de R$ 5.

Miraglia chama a atenção para o ambiente externo desafiador, com a questão da energia na China e na Europa e as pressões inflacionárias disseminadas, em meio à disrupção das cadeias produtivas por conta da covid-19. “Isso afeta muito a dinâmica do nosso câmbio. Além disso, os nossos desafios internos continuam, com a questão dos precatórios e do orçamento”, afirma.

Por aqui, o relator da reforma do IR no Senado, Angelo Coronel (PSD-BA), afirmou – após reunião com o ministro da Fazenda, Paulo Guedes – que seria irresponsabilidade apresentar um relatório com rapidez e que é inaceitável que estados e municípios percam receita.

“Tenho várias reuniões marcadas com entidades de classe empresariais e, depois de ouvir, com mais de 10 a 15 dias apresentar o relatório”, disse Coronel, sem especificar as datas do cronograma e nem mesmo quando começa a contar o prazo para a apresentação do parecer. O governo conta com a reforma do IR e a aprovação da PEC dos precatórios para bancar o Auxílio Brasil no ano que vem.

“O mercado tinha a expectativa de que o swap pudesse conter o avanço mais agressivo do dólar, mas não é o que estamos vendo hoje”, afirma a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, ressaltando o quadro político interno ainda ruim, com a percepção de que a agenda econômica não avança no Congresso.