Citando números dos EUA como um exemplo do fenômeno mundial, Serra disse que o choque de demanda por bens tem sido mais persistente. “É um choque positivo na demanda por bens, que tem sido entendido como temporário, mas tem sido mais persistente.”
Por outro lado, disse que o consumo de serviços está retomando, mas ainda abaixo do pré-pandemia.
Desigualdade e gap
O diretor de Política Monetária do Banco Central salientou que a desigualdade da retomada da atividade entre setores da economia virou um “gap enorme de ociosidade”. “Voltamos para o menor nível de ociosidade de bens desde 2014. Isso ajuda a explicar a produção de bens de capital e o rimo de investimento mais forte”, disse, acrescentando que também há implicações sobre o mercado de trabalho.
Serra salientou que há ainda ociosidade em alguns setores, como o de serviços, enquanto o de bens de capital joga a ociosidade para o outro lado, com uma demanda forte. “Há choque de inflação de bens muito forte, e o repasse fica muito fácil”, avaliou.
O diretor comparou o movimento dos núcleos da inflação do Brasil com outros países que são comparáveis e salientou que a do Brasil está “no meio” do gráfico. “(O Brasil) foi dos países que mais sentiram a primeira onda de lockdown, e agora está subindo mais”, disse.
Sobre a atividade, ele analisou que a recuperação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico foi, de fato, em ‘V’. “Mas setorialmente, retomada foi bastante desigual”, disse, acrescentando, por exemplo, que o segmento de bens de capital está “bombando”.
Serra comentou ainda sobre a disparada do preço de algumas commodities, citando que a do petróleo foi bem pronunciada, com uma elevação entre 90% e 95% de um ano para cá. O movimento, de acordo com ele, também tem sido visto em algumas commodities agrícolas.
O diretor afirmou, porém, que não há escassez de contêineres, como vem se propagando no mercado. “O que tem é que a demanda cresceu bastante. O movimento está mais ligado ao comércio de bens”, apontou.