“Se eu acredito que a questão fiscal ficará pior, elevando a assimetria no cenário de riscos com maior projeção para a inflação, aumentamos o ritmo ou o tamanho do ciclo? O nosso procedimento foi olhar para a inflação em 2022, embora o horizonte relevante considere parte de 2023. A conclusão foi de que o ritmo de 1 p.p. é suficiente. Se a conclusão não fosse essa, poderíamos passar para a 1,25 pp. Avaliamos a questão se o tamanho ciclo é suficiente ou se é preciso aumentar ritmo também”, reforçou Kanczuk, em participação no JP Morgan Investor Seminar.
A partir da quarta-feira, 20, a diretoria colegiada do BC entra em período de silêncio prévio à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.
Inércia inflacionária
O diretor de Política Econômica do Banco Central repetiu também que o BC vê muito pouca inércia inflacionária para a inflação de 2022. Ainda assim, ele reconheceu que a inflação de serviços vai subir no próximo ano, rodando acima da inflação geral.
“Há um hiato, mas escolas e serviços têm que colocar custos em novos preços. Mas a parte de alimentos deve abaixar de preço. O difícil é calcular os preços de bens industriais, onde temos cometido erros sistemáticos”, admitiu. “Inflação de bens está alta nos Estados Unidos, e há questão se é problema de oferta ou demanda. Na nossa visão, parece um problema de oferta. Em algum momento, os preços de bens industriais vão cair muito e rápido”, argumentou Kanczuk.
Para ele, se essa reversão de preços demorar a ocorrer em 2022, a inflação do próximo ano continuará muito alta. “É possível alcançar números muito mais baixos de inflação, questão é quando. O Copom não sabe quando isso vai acontecer. Por isso, encarando esse problema, o BC decidiu elevar os juros para colocar a inflação na meta ainda em 2022. Se eu não entregar 2022 corretamente, não vou entregar 2023”, repetiu. “Não é um dilema entre 2022 e 2023, mas foco em 2022”, acrescentou.
Tempo de convergência
O diretor de Política Econômica do Banco Central reconheceu que o BC precisará analisar o tempo para convergência da inflação para a meta ainda em 2022, assim como deve continuar a necessidade de elevar o ritmo do ciclo de aperto monetária. “Pode-se argumentar que, se aumentarmos muito os juros agora, a inflação vai para baixo em 2022 e 2023 e, em algum momento, a inflação de 2023 virá para baixo da meta. É uma avaliação válida, pode haver esse dilema, mas isso não é consistente com a maioria das projeções do mercado”, respondeu.