No ritmo dos últimos três meses, esse descompasso entre arrecadação e despesas pode dobrar e superar R$ 16 bilhões em dezembro, o que inviabiliza a promessa do presidente Jair Bolsonaro de reduzir a bandeira tarifária.
Uma alternativa seria conseguir um empréstimo no mercado para diluir esse repasse ao consumidor ao longo de um período, diz o pesquisador sênior do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Roberto Brandão. Na avaliação dele, este não é o momento para reduzir o valor da bandeira tarifária.
A origem do rombo
O aumento do déficit foi provocado, sobretudo, pela alta global dos combustíveis usados pelas térmicas – gás natural ou diesel. O aumento afetou o custo variável das usinas, que estão operando a plena carga para preservar os reservatórios. Na quinta-feira passada, por exemplo, as térmicas (exceto a nuclear) produziram quase 30% de toda energia usada no mercado nacional. O preço de algumas delas está na casa de R$ 2,2 mil o Mwh.
Num primeiro momento, são as distribuidoras que arcam com esse custo elevado. Elas compram a energia do mercado, pagam e depois cobram do consumidor por meio da bandeira tarifária na conta de luz. Como essa arrecadação é inferior ao custo total da geração térmica, as empresas ficam com um crédito a receber. Mas um volume muito elevado pode comprometer o caixa e a saúde financeira das companhias.
“Estamos conversando com o governo para encontrarmos uma solução para o problema. Eles estão debruçados sobre o assunto”, diz o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira.
Apesar de elevado, o valor definido para a bandeira vermelha ficou aquém do custo que está sendo bancado. Segundo uma fonte do setor, que prefere não se identificar, quando o governo bateu o martelo nos R$ 14,20 para a bandeira de escassez hídrica, o valor inicial foi de R$ 24.
Além da bandeira tarifária ainda em vigor, o preço da energia elétrica já vem de uma forte escalada nos últimos anos. Na média, a tarifa para o consumidor residencial subiu 84% de 2010 para cá, de R$ 330,70 o MWh para R$ 608,80, segundo dados da Aneel.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.