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Dólar cai 0,59% com correção em meio à ambiente externo positivo

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Estadão Conteúdos

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira em queda firme, devolvendo parte dos ganhos expressivos da terça-feira, quando chegou a tocar na casa de R$ 5,61 na máxima intradia. Segundo operadores, o clima externo de apetite ao risco, com avanço das divisas emergentes, abriu espaço para ajustes de posições e realização de lucros, enquanto se espera uma definição do formato final do Auxílio Brasil.

Além do ambiente positivo no exterior, operadores também citaram como fatores que contribuíram para recuo dólar nesta quarta as intervenções do Banco Central pela manhã, via swaps cambiais, e a perspectiva de que haja uma aceleração do aperto monetário no encontro do Copom neste mês (como precificado no mercado de juros futuros), justamente para se contrapor aos efeitos deletérios da deterioração fiscal sobre as expectativas de inflação.

O dólar até ensaiou uma queda mais acentuada à tarde e registrou mínima de R$ 5,5213 (-1,30%) em meio a declarações do ministro da Cidadania, João Roma, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto sobre o Auxílio Brasil. Ele disse que haverá um reajuste linear permanente de 20% em todos os benefícios sociais até dezembro e reiterou o compromisso de pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil de forma temporária, até o fim de 2022. “Não estamos aventando que o pagamento desses benefícios se dê por créditos extraordinários”, disse o ministro, acrescentando que o governo tem compromisso com “a responsabilidade fiscal”.

O alívio foi, contudo, pontual. Logo, a moeda norte-americana reduziu o ritmo de perdas e se afastando das mínimas. No fim do pregão, o dólar à vista era negociado a R$ 5,5608, em queda de 0,59%. Mesmo com a queda desta quarta, a moeda ainda acumula ganhos de 1,95% na semana e registra avanço de 2,10% em outubro.

O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, avalia que ainda faltam definições sobre a estrutura de financiamento do programa social e que o governo parece querer ganhar tempo para acalmar os ânimos. “Parecem dizer que vão respeitar a regra fiscal ao estabelecer que a as despesas com precatórios e as emendas parlamentares ficam dentro do teto e o gasto com o Auxílio Brasil pode ficar de fora, porque é transitório”, diz Velho, ressaltando que há sinais de que o valor extrateto pode ficar em R$ 30 bilhões, limite aceito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em evento agora no fim da tarde, Guedes afirmou que contava como a PEC dos Precatórios e a reforma do Imposto de Renda para financiar o novo programa. “Mas como o projeto do IR não avança no Senado, o governo “tem que tomar uma atitude”. “Em vez dos R$ 300 sustentáveis que o IR permitiria, fizemos número maior referência ao valor de R$ 400 do Auxílio Brasil). Não temos fonte para que programa seja permanente, então uma parte é transitória”, disse Guedes, ressaltando que o “compromisso fiscal continua”.

A despeito do alívio nesta quarta na taxa de câmbio, Velho não vislumbra possibilidade de uma melhora significativa dos ativos domésticos, com o dólar recuando para a casa de R$ 5,40, dado que o governo dá sinais reiterados de que vai praticar uma política fiscal mais expansionista. “O governo Bolsonaro e o presidente da Câmara (Arthur Lira) estão juntos e vão buscar a reeleição. Isso está claro com várias medidas que estão tomando, como o vale gás, a mudança no ICMS e a pressão para mudar a bandeira tarifária”, diz Velho.

A economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli atribui a queda do dólar nesta quarta a dois motivos principais: o avanço dos juros futuros, que precificam aumento do ritmo de alta da Selic, e a bateria de leilões de swap cambial realizada pelo Banco Central. “A autoridade monetária deixou claro que vai utilizar os instrumentos que tem uma variação atípica do dólar”, diz Quartaroli. “A volatilidade, contudo, deve continuar, já que as incertezas sobre o Auxílio Brasil e, consequentemente, com o teto dos gastos continuam no radar dos mercados”, afirma.

Pela manhã, o Banco Central realizou três leilões de swaps cambiais, no valor total de US$ 1,950 bilhão, dos quais US$ 1,2 bilhão (US$ 500 milhões extras e US$ 700 milhões para demanda de overhedge) representam injeção de recursos novos no sistema. Embora não sejam capazes de ditar o rumo da taxa de câmbio, as intervenções do BC, dizem operadores, ajuda a modular as oscilações mais abruptas por conta de demandas pontuais.