Como o sr. avalia a decisão do BC de subir em 1,5 ponto porcentual a taxa básica?
Não há dúvida de que é o caminho disparado mais adequado. Se houver a continuidade dessa política, com mais dois aumentos de 1,5 ponto e um de 1,25, com a Selic chegando em 12% em março e mantida nesse patamar, poderemos acreditar que a inflação de 2022 ficará na vizinhança da meta de 3,5%. Na última segunda-feira, rodamos o modelo de projeção da MCM, levando essas hipóteses de mercado e chegamos a esse resultado.
Faria sentido ser mais agressivo na alta dos juros?
Não, pois o BC não pode causar volatilidade no mercado.
Como o sr. vê a inflação?
Os gargalos da produção, a interrupção das cadeias produtivas, todas as encrencas do lado da oferta no mundo vieram por causa da pandemia. Também do lado da demanda, é indiscutível que houve no mundo inteiro um desvio de consumo de serviços para o de bens, por conta da crise sanitária. No Brasil, a inflação tem se mostrado bastante complexa. Temos não só a inflação da pandemia, mas outras coisas: crise hídrica, problemas climáticos e uma questão ligada ao risco-país, associada a preocupações de cunho político e fiscal. Com o risco-país em alta, o câmbio se deprecia e mexe com preços de mercadorias. Lá fora é a inflação da pandemia. Aqui é pior, ainda mais com o sinal de abandono da regra fiscal. Por causa do risco político e fiscal, o BC não tem contado com o câmbio, um dos canais mais importantes de transmissão da política monetária. Ele está só no combate à inflação. Esse é o problema.
Quais são os impactos?
Essa não é a maneira mais eficiente de segurar a inflação. O ideal é que o lado fiscal coopere com o lado monetário. A despeito de não estarmos diante da resposta ideal, não há alternativa: o BC não pode jogar a toalha. Senão vamos adicionar à lista dos problemas uma inflação mais alta em caráter permanente.
Qual é o efeito da alta dos juros na atividade?
Como o BC está sozinho nessa batalha, os juros da política monetária têm de ser mais elevados do que precisariam ser. Não vou me surpreender se tivermos uma estagnação econômica no ano de 2022 ou talvez até pior do que isso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.