Os presidentes dessas companhias não comandam apenas a implementação de projetos “verdes” no ambiente corporativo. Segundo eles, iniciativas sustentáveis são adotadas em suas casas também, dado que todo esforço é necessário para reduzir o aquecimento do planeta.
“As ações das empresas e dos indivíduos, por mais que sejam gotas no oceano, contribuem e são essenciais para a sociedade”, afirma ao Estadão o presidente da Natura & Co, João Paulo Ferreira.
Entre as medidas mais comuns adotadas pelos executivos estão a separação do lixo reciclável – o presidente da Danone no Brasil, Edson Higo, inclusive comandou uma campanha para que os resíduos desse tipo fossem separados no prédio em que morava – e o uso de carros elétricos ou híbridos.
Ao comentar a adoção do carro elétrico – medida cara e pouco acessível -, o presidente do conselho da BlackRock no Brasil, Carlos Takahashi, diz que as “práticas tem de ser boas e viáveis para se sustentarem no longo prazo. Essa é uma alternativa viável e boa para mim, ainda que tenha a questão de como o carro é produzido”.
A recomendação vale também para projetos implementados nas empresas, acrescenta Takahashi.
Gestos simples
Costumes baratos – e que podem ser copiados com facilidade pela maioria das pessoas – também aparecem entre os hábitos dos executivos.
Presidente da EDP Energias do Brasil, João Marques da Cruz conta que, para reduzir o desperdício de alimentos, ele costuma comprar frutas que sobram nas gôndolas. “Não é porque uma banana não tem outra ao seu lado que perdeu a qualidade.”
Confira, a seguir, as iniciativas sustentáveis praticadas pelos executivos, além de projetos corporativos que eles lideram na área e como encaram seus impactos na sociedade.
Visão de mundo
Edson Higo, presidente da Danone no Brasil
‘A agenda ESG não é de competição, mas de colaboração’
À frente da Danone no Brasil, Edson Higo afirma que não foi o fato de trabalhar em uma das empresas mais reconhecidas globalmente por sua preocupação com o meio ambiente que o fez adotar em casa práticas sustentáveis. “Acho que foi o contrário. Sempre tive essa consciência e fico feliz que a empresa tenha essa preocupação. Essa visão da Danone facilita demais (o trabalho), porque está alinhada com a forma como vejo o mundo.” Há dez anos, Higo liderou um iniciativa no prédio em que morava para adotar a separação do lixo reciclável. Em casa, o filho do executivo já sabe que toda pilha usada precisa ser colocada em uma caixinha para, depois, ser levada ao descarte apropriado. No transporte, Higo passou a usar, há três meses, carro elétrico. O executivo foi um dos responsáveis por um projeto para neutralizar as emissões em uma fábrica de Poços de Caldas (MG), além de reduzir o uso de água e zerar o descarte de resíduos em aterro. Agora, ele quer fazer a mesma transformação em uma planta de iogurtes.
João Marques da Cruz, presidente da EDP Energias do Brasil
‘Consumidor consciente pressiona empresas para soluções sustentáveis’
O português João Marques da Cruz comanda a EDP Energias do Brasil, que está em primeiro lugar no ranking da B3 das companhias que melhor cumprem a agenda ESG. O executivo destaca que as empresas comprometidas com a pauta precisam não só de projetos criativos, mas sobretudo trabalhar com metas na área – e criar um sistema quantitativo de aferição. “Não dá para ter só vontades e iniciativas, é preciso estrutura para conseguir atingir os objetivos”, diz Cruz.
Além de liderar projetos de transição energética na empresa, o executivo afirma que, em casa, também trabalha para adotar uma rotina sustentável. Quando faz compras, prefere escolher frutas rejeitadas pela maioria dos consumidores. O executivo separa todo o lixo possível para reciclagem. Para ele, a escolha do consumidor por empresas e produtos mais sustentáveis é a chave em direção a uma economia verde. “Se os consumidores têm essa consciência, eles pressionam as empresas para soluções mais sustentáveis.”
João Paulo Ferreira, presidente da Natura & Co
‘Consideramos os desafios socioambientais oportunidades de negócio e motores de inovação’
Hoje presidente do grupo Natura, João Paulo Ferreira comandou a área de sustentabilidade da companhia entre 2013 e 2016. Nesse período, trabalhou na elaboração da “Visão de Sustentabilidade 2050” da empresa, documento que listou as metas para serem alcançadas na área. Foi com esse projeto que a Natura criou o índice de desenvolvimento humano das consultoras. “Naquele momento, consolidamos a ideia de que a sustentabilidade é parte inerente do negócio da Natura. Isso ajudou a companhia a fazer escolhas importantes. Acho que foi minha maior contribuição”, diz.
Depois dessa experiência, o executivo liderou a elaboração da “Visão de Sustentabilidade” de todo o grupo, que inclui as marcas Natura, The Body Shop, Avon e Aesop. “A gente sempre considera os desafios socioambientais como oportunidades de negócio e motores de inovação.”
Conviver com essas escolhas o fez incorporar os hábitos no dia a dia. Ferreira diz que seu filho vai de bicicleta para a faculdade; enquanto ele usa carro eletrificado (elétrico e híbrido). E todos em casa precisam separar o lixo e economizar água. “Abrir a torneira é uma briga aqui.”
Carlos Takahashi, presidente do conselho da BlackRock no Brasil
‘As práticas têm de ser boas e viáveis para se sustentarem no longo prazo’
O filme Dersu Uzala, do diretor japonês Akira Kurosawa, marcou a vida e a relação com o meio ambiente do presidente do conselho da BlackRock no Brasil, Carlos Takahashi. Para o executivo, a cena chave do longa é uma em que o protagonista – um membro do povo originário Nanai – recomenda a um explorador do exército russo a deixar alimentos em uma cabana, ainda que a dupla esteja indo embora. A ideia é que os produtos possam alimentar quem chegar ao local com fome. “Nós também temos de deixar a cabana pronta para quem vier depois da gente”, diz Takahashi. Uma das medidas que Takahashi adota para tentar garantir a preservação do ambiente para as próximas gerações é o uso do carro elétrico. “As práticas têm de ser boas e viáveis para se sustentar no longo prazo. Essa é uma alternativa viável e boa para mim, ainda que tenha a questão de como o carro é produzido”, pondera. Maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock coloca a agenda ESG como central em seus negócios. Desde 2020, passou a verificar se as empresas em que investe seguem o Acordo de Paris.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.