A empresa, que quitava os empréstimos dos limites dos cartões um dia antes do vencimento, deixou de fazê-lo no fim de junho. Também não cumpriu o prazo no qual prometera fazer esses pagamentos. Alguns clientes tinham cedido mais de R$ 600 mil em limites. No meio da crise, as operações da empresa foram paralisadas, mas, segundo Câmara, em cerca de quatro semanas a VirtusPay voltará a operar. A novidade é que os recursos para os parcelamentos não virão mais dos limites de cartões de crédito de pessoas físicas, mas de tradicionais fundos de direito creditório ou mesmo debêntures.
“Não conseguiríamos recursos de maneira tradicional no início”, disse. “Com cinco anos de operações e resultados, podemos apelar a estruturas menos heterodoxas.” Agora, Câmara planeja a ida ao varejo tradicional e a ampliação da oferta do produto no pequeno e médio comércio eletrônico – além de tentar convencer um eventual investidor de que cobrar 6% de juros ao mês das classes baixas é um bom negócio.
Em 24 de julho, as contas começaram a ser pagas e a maior parte das pendências foi acertada. “Claro que não ficamos felizes, nem tivemos a intenção (de atrasar pagamentos)”, disse Câmara. “Por outro lado, passar pelo que a gente passou, assumindo falhas, significa que saímos com mais maturidade para levar adiante o que construímos e que mantém seu valor.”
QUASE QUEBROU
No fim do ano passado, o time começou a perceber que a busca por um investidor que desse suporte ao crescimento rápido da operação seria muito mais difícil do que o esperado. “Falávamos de uma rodada (de captação) de US$ 50 milhões, que passou para US$ 25 milhões, depois US$ 20 milhões, depois US$ 10 milhões”, disse Câmara.
O problema, segundo ele, não era a fintech, mas a economia global: com a inflação subindo em todo o mundo, os investidores calcularam que os bancos centrais aumentariam os juros e haveria oportunidades mais atraentes e menos arriscadas para colocar o dinheiro. As startups despencaram em termos de valor de mercado e as fontes de recurso secaram.
Até então, a VirtusPay rodava com um aporte de R$ 6 milhões feito pela Vox Capital e pela Kviv, da família Klein, em 2019. Saíram de R$ 1 milhão de empréstimos para R$ 10 milhões, entre 2019 e 2020. Poderia partir para uma segunda rodada de captação, mas os sócios entenderam que, como cresciam fortemente, se conseguissem ter um histórico mais longo, o valor da empresa seria bem maior.
Resolveram, então, emitir R$ 100 milhões em debêntures (títulos de dívida), como uma espécie de garantia para os limites de cartões “comprados” das pessoas físicas. Conforme o crédito dos cartões entrava na empresa e era transformado em certificados de depósito bancário, os investidores das debêntures liberavam recursos equivalentes.
Mas, com a piora das condições econômicas e das perspectivas para startups, alguns investidores começaram a segurar os repasses. Sem a alternativa, a empresa anteviu que ficaria sem dinheiro e partiu para negociar uma suspensão do uso dos créditos dos cartões com a cadeia de pagamentos.
QUEM SOCORRE?
Com o calote da VirtusPay, cerca de 5 mil clientes tiveram de correr atrás de bancos, advogados e operadoras, tentando suspender as transações e conseguir indenizações. Foram noites sem dormir e milhares de mensagens em grupos de WhatsApp e Telegram – algumas ameaçadoras a Câmara, seus sócios e familiares. O drama era a quem recorrer caso a situação não fosse resolvida. Para Tarsila Machado Alves, sócia do VRMA Advogados e especialista em fintechs, o Banco Central tem mecanismos e age de maneira ativa para que a inovação possa acontecer no setor, sem comprometimento ao sistema financeiro. “As fintechs de meios de pagamento têm regras mais brandas, mas os volumes envolvidos são menores”, disse ela.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.