No exterior, a moeda americana teve sinal misto frente a divisas fortes e emergentes, embora tenha caído ante pares do real como o peso chileno e o rand sul-africano. Depois de o resultado acima do esperado do relatório de emprego (payroll) na sexta-feira (5) mitigar temores de recessão nos EUA, investidores aguardam a divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor (CPI) em julho para calibrar as apostas em torno do ritmo de alta dos juros pelo Federal Reserve.
Afora uma queda pontual na primeira hora de negócios, quando rompeu o piso de R$ 5,10, ao descer até a mínima de R$ 5,0931 (-0,39%), o dólar trabalhou em alta durante toda a sessão. Com máxima a R$ 5,1517, registrada à tarde, a divisa fechou cotada a R$ 5,1295, avanço de 0,32%. Na semana, a moeda apresenta leve perda, de 0,72%. A liquidez foi reduzida, com o contrato de dólar futuro para setembro – principal termômetro do apetite por negócio – girando menos de US$ 10 bilhões.
“O dólar caiu bastante nos últimos dias com entrada de fluxo externo e também desmonte de posição comprada que ganha quando o dólar sobe do estrangeiro no mercado futuro. Estamos vendo um movimento de correção hoje”, afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, para quem o mercado se animou com a geração de emprego nos EUA. “Isso acabou mexendo com as commodities. É melhor uma alta de juros maior nos EUA com a economia ainda forte do que uma recessão”.
Segundo o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, houve também uma atuação mais intensa por parte de importadores na sessão de hoje, o que contribuiu para a alta do dólar. “Percebi compras de importadores importantes, que aproveitaram a queda recente para realização de grandes pagamentos”, afirma Gusmão.
Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – apresentou leve queda, na casa dos 106,300 pontos, com perda frente ao euro e ganhos na comparação com o iene e a libra esterlina. Por ora, seguem majoritárias as apostas de que o Federal Reserve vai elevar a taxa básica em 75 pontos-base em setembro, apesar de um ala do mercado acreditar que a inflação americana pode já ter atingido seu pico.
Segundo a mediana das expectativas de 26 analistas consultados por Projeções Broadcast, o CPI avançou 0,2% em julho ante o mês anterior, com alta de 8,7% na comparação anual. Caso se confirme, o resultado representará uma desaceleração, após os avanços de 1,3% e 9,1% de maio, respectivamente.
“O CPI vai ser importantíssimo para ver como anda a economia americana. Se vier acima do esperado, abre espaço para especulação de um aumento maior os juros nos EUA, o que pode dar novo impulso ao dólar”, afirma Gusmão, da Ourominas.
Por aqui, o IPCA fechou julho com queda de 0,68%, um pouco superior à mediana de Projeções Broadcast (-0,66%). Foi a maior deflação da série histórica iniciada em 1980. Em 12 meses, o índice desacelerou de 11,89% em junho para 10,07% em julho. Analistas ponderam que a queda do IPCA no mês passado se deve, sobretudo, à redução da alíquota do ICMS para gasolina e energia elétrica. A abertura do índice revela uma dinâmica inflacionária qualitativamente ruim.
Na ata, o Copom seguiu a toada de seu comunicado na semana passada e afirmou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, na próxima reunião, com o objetivo de trazer a inflação para o redor da meta no horizonte relevante”. Como as projeções de inflação neste ano e em 2023 estão “sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias”, o Copom alargou o chamado horizonte da política monetária e, como diz na ata, “optou por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024”.