Contudo, a cautela fiscal doméstica, diante da escalada das reivindicações do funcionalismo público por reajuste, e a perspectiva de alta de juros nos Estados já neste primeiro semestre, reforçada pelo tom duro da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na quarta-feira, mantêm os investidores na defensiva – o que impede o dólar de se afastar muito da linha de R$ 5,70 no curto prazo.
Embora tenha trocado de sinais pela manhã e início da tarde, a amplitude da movimentação da taxa de câmbio foi bem menor em relação a pregões anteriores, com a moeda oscilando apenas cerca de quatro centavos entre a mínima (R$ 5,6720) e a máxima (R$ 5,7251).
No fim da sessão, o dólar à vista era cotado a R$ 5,6800, em queda de 0,56%. Mesmo assim, a divisa ainda acumula alta de 1,87% na semana. O dólar futuro para fevereiro recuou 0,36% e fechou a R$ 5,71450, com giro de US$ 9,79 bilhões.
“O pregão hoje foi um pouco mais tranquilo que ontem, com pouca oscilação da taxa de câmbio. Aparentemente o mercado já absorveu o tom mais duro da ata do Fed”, afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, acrescentando que, a despeito do alívio nesta quinta, a taxa de câmbio ainda permanece em um patamar elevado. “Isso reflete a possibilidade real de aumento de juros nos EUA antes do previsto, além das questões fiscais no Brasil, que ainda estão muito abertas.”
Nesta quinta à tarde, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, uma das vozes mais duras dentro do BC americano, disse que a primeira elevação dos juros pode ocorrer já em março – mês em que deve terminar o programa de compras mensais de ativos. Ecoando a ata do Fed na quarta-feira, Bullard disse que é possível começar, em breve, o processo de redução do balanço do BC americano. Ele também afirmou o mercado de trabalho – que, ao lado da inflação, é essencial para os próximos passos do Fed – está “muito robusto”.
Investidores aguardam na sexta-feira a divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA em dezembro. Por ora, analistas acreditam que eventuais impactos da onda de casos de covid-19 provocada pela variante Ômicron do coronavírus nos indicadores de emprego apareçam apenas no relatório de janeiro.
O índice DYX – que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes – apresentava leve alta, mantendo-se acima da linha dos 96,000 pontos, sobretudo por conta dos ganhos frente ao euro e a libra. Em relação a divisas emergentes, o dólar perdeu força frente ao rublo, ao peso mexicano, ao rand sul-africano e ao peso chileno, mais ligados ao real. A alta mais relevante foi, uma vez mais, contra a lira turca.
O diretor de operações da Câmbio Curitiba, Lucas Schroeder, ressalta que, apesar do tom mais duro do Fed, é preciso esperar a nova leva de indicadores econômicos e os impactos da variante Ômicron na economia para cravar que haverá uma alta antecipada de juros nos EUA. “O Fed foi incisivo, mas precisa de dados para fazer aquilo que sinalizou na ata. Vamos ver como vem o payroll amanhã”, afirma.
Entre os indicadores americanos divulgados nesta quinta, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços americano caiu a 62 em dezembro, bem abaixo da previsão de analistas.
O número de pedidos de auxílio-desemprego subiu 7 mil na semana encerrada em 1º de janeiro, para 207 mil, acima das expectativas, de 195 mil.
Para Schroeder, da Câmbio Curitiba, é difícil imaginar que o dólar possa ceder para baixo de R$ 5,60, dada a expectativa pelos próximos passos do Fed e o aumento das pressões por mais gastos públicos em ano eleitoral, algo que já pode ser visto na reivindicação de reajuste de servidores públicos. “A tendência é de um dólar para cima. Hoje o mercado aproveitou para fazer ajustes, já que não tivemos notícias fortes”, afirma.
O mercado também monitorou nesta quinta a captação externa do Banco do Brasil. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, o BB fechou emissão de US$ 500 milhões de papéis de 7 anos e taxa de retorno de 4,875%. A demanda teria chegado a US$ 1,5 bilhão.