Para ele, por ser a maior economia da América Latina, o Brasil pode ser um dos principais beneficiários do que ele chama de nearshoring – produção nas proximidades, em tradução livre. A ideia é trazer de volta para a região a produção que nas últimas décadas – em busca de mão de obra e ambiente de negócios mais baratos – foi para outras partes do mundo, em especial a Ásia.
O Banco fez um trabalho para identificar oportunidades nesse sentido na América Latina e Caribe. No Brasil, são 98 possibilidades, conforme o presidente do BID, que vão de aparelhos médicos a desenvolvimento de software e turbinas eólicas. “É uma grande oportunidade”, garante. Para Carone, o Brasil poderia, por exemplo, passar a exportar para os EUA 50% do que a China vende atualmente para a maior potência econômica do globo. “Estamos falando em um incremento de US$ 10 bilhões (mais de R$ 47 bilhões) por ano do Brasil apenas para os EUA.”
Lugar único
A maior economia da América Latina tem tudo para receber a produção local desses itens, segundo o primeiro norte-americano a liderar o BID em 61 anos. Além do tamanho e da competitividade de custo, ele reforça que o País dispõe de ampla gama de recursos naturais. Conta ainda com a vantagem de fuso horário, distâncias mais curtas e cultura similar. “O Brasil é um lugar único e deve estar preparado. Também podemos fazer isso na área de commodities, podendo preencher o gap que a Rússia deixou.”
Ao lado das commodities minerais, a área de alimentos é outro destaque, ressalta Carone. Ele disse estar ciente do problema pelo qual o Brasil passa com fertilizantes e garantiu que está trabalhando junto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em alternativas.
“A comida do Brasil é a chave para lidar com a crise atual, mas tem a questão com os fertilizantes. O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes e compra muito da Rússia. Estamos buscando novos instrumentos financeiros e preços competitivos com o Canadá para trazer a produção até setembro.”
O norte-americano admite que esta transferência de produção vem sendo sua “obsessão” desde que assumiu o comando do banco, em outubro de 2020. A mudança de parte da produção para lugares distantes, segundo ele, foi um erro evidenciado durante a pandemia e, agora, com a guerra na Ucrânia.
Mas Carone admite que o nearshoring não é apenas uma questão de querer. No ano passado, segundo ele, o BID destinou quase US$ 4 bilhões (mais de R$ 19 bilhões) para financiar o processo. Metade dos recursos foi aplicada em melhoria da logística e diminuição da burocracia dos países. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.