Para as famílias de renda “muito baixa” (até R$ 1.808,79 ao mês na soma de todos de um domicílio, na classificação do Ipea), os preços subiram em média 0,63%, enquanto para as pessoas de renda “alta” (acima de R$ 17.764,49 ao mês por domicílio) a alta ficou em 0,34%. No acumulado em 12 meses, o IPCA ficou em 10,5% para os de renda “muito baixa” e em 9,6% para quem tem renda “alta”.
“Não obstante ao fato de que o grupo de alimentos e bebidas tenha sido o principal foco de inflação para todas as classes, o impacto da alta dos alimentos foi bem mais intenso para as famílias de renda muito baixa”, diz a nota do Ipea.
Isso ocorre porque a participação de itens básicos ou despesas essenciais é maior na cesta de consumo das famílias mais pobres. Enquanto isso, a cesta de consumo dos mais ricos tem participação maior de serviços e gastos não essenciais, como turismo e lazer, mesmo que, em termos absolutos, seus gastos com alimentos superem as despesas dos mais pobres.
Segundo o Ipea, os preços de legumes, frutas e verduras foram os grandes vilões da inflação para os mais pobres. Itens importantes da cesta básica ficaram mais baratos em janeiro, como o arroz (-2,7%), o feijão (-3,0%) e aves e ovos (-0,8%). Só que os reajustes dos produtos “in natura” falaram mais alto, como no caso da cenoura (27,6%), laranja (14,9%), banana (11,7%), batata (9,7%), das carnes (1,3%), do café (4,8%) e do óleo de soja (1,4%).
Por outro lado, as famílias mais ricas experimentaram um alívio nos preços de combustíveis. Já há sinais de novos reajustes dos combustíveis no atacado, mas, em janeiro, eles ainda estavam em queda no IPCA. Como as famílias mais pobres dificilmente têm carro particular e, portanto, tendem a gastar pouco com combustível, esse alívio pouco interfere na inflação média para essas faixas de renda.
“A queda dos combustíveis – gasolina (-1,1%) e etanol (-2,8%) -, das passagens aéreas (-18,4%) e do transporte por aplicativo (-18%) fez com que o grupo de transportes trouxesse um forte alívio inflacionário para a faixa de renda alta”, diz a nota do Ipea, citando também os planos de saúde, outro tipo de gasto que não costuma fazer parte da cesta de consumo dos mais pobres. “A deflação de 0,69% dos planos de saúde gerou uma descompressão do grupo de saúde e cuidados pessoais” no IPCA dos mais ricos, segundo o Ipea.