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Com Powell, Ibovespa cai 1,09%, a 112,3 mil pontos, mas sobe 0,72% na semana

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Estadão Conteúdos

O Ibovespa acompanhou a cautela externa nesta última sessão da semana, na qual se confirmou o aguardado viés ‘hawkish‘ no discurso proferido em Jackson Hole pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Ainda assim, a referência da B3 resistiu a um grau maior de correção, mostrando resiliência ao ajuste em andamento nos maiores mercados do exterior. Em Nova York, as perdas da sessão chegaram a 3,94% no Nasdaq e, ao longo da semana, o índice de tecnologia recuou 4,44%. Na Europa, o DAX, de Frankfurt, cedeu nesta sexta 2,26% e, na semana, 4,23%, enquanto em Londres o FTSE 100 caiu 0,70% nesta sexta-feira, retrocedendo 1,63% na semana. Na Ásia, o Nikkei, de Tóquio, sem conhecer ainda o tom de Powell, subiu 0,57% na sessão, mas perdeu 1% na semana.

Aqui, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,09%, aos 112.298,86 pontos, entre mínima de 111.978,20 e máxima de 114.091,40 pontos – como na quinta chegando a se reaproximar dos melhores níveis intradia desde abril, vistos na semana anterior -, saindo de abertura nesta sexta-feira aos 113.532,54 pontos. Na semana, na contramão da maioria das referências externas, o índice da B3 conseguiu preservar leve ganho de 0,72%, vindo de perda de 1,12% na semana passada – a qual sucedera quatro semanas de avanço consecutivo. O giro ficou nesta sexta em R$ 26,2 bilhões. No mês, o Ibovespa avança 8,85%, com ganho no ano a 7,13%.

A sexta-feira foi de ajuste bem distribuído por ações e setores mais líquidos, com Petrobras (ON +1,00%, máxima do dia no fechamento; PN +1,08%) no lado oposto, em dia de alguma recuperação para o petróleo, em especial o Brent, negociado acima dos US$ 100 por barril. Na ponta negativa do Ibovespa, Natura (-6,73%), Usiminas (-6,67%), CSN (-5,95%) e Totvs (-4,66%). No lado oposto, Alpargatas (+7,18%), Pão de Açúcar (+3,02%), Cielo (+2,25%) e Petrobras PN (+1,08%).

O discurso de Powell, no Simpósio de Jackson Hole, sinaliza que o ciclo de aperto vai continuar e que a taxa de juros dos Estados Unidos permanecerá em nível elevado, avalia o Bradesco. Para o banco, a fala do presidente do Fed corroborou o cenário de aumento dos juros americanos a 4% até 2023. “Jerome Powell deixou claro que o Fed tem como objetivo trazer a inflação para o nível de 2% ao ano e que, para isso, a economia crescerá abaixo da tendência por alguns trimestres. Esse discurso está em linha com nosso cenário de continuidade de altas de juros nos EUA, atingindo 4% em 2023”, dizem os economistas do Bradesco, em relatório.

Em Jackson Hole, Powell apontou que o processo de elevação de juros trará “alguma dor” para as famílias americanas, mas que o ajuste na política monetária é essencial para que o BC americano cumpra o mandato relacionado à inflação.

Mesmo com o tom duro indicado pelo BC dos Estados Unidos, o mercado aqui reduziu o pessimismo sobre o desempenho das ações na B3 no curtíssimo prazo, conforme o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 50% acreditam que a próxima semana será de alta para o Ibovespa, enquanto 30% disseram esperar perdas. Os que preveem estabilidade são 20%. Na pesquisa da semana passada, 36,36% responderam que o índice teria queda nesta semana, contra 27,27% que projetavam ganhos. Para outros 36,36%, a Bolsa teria variação neutra.

“A Bolsa teve uma recuperação muito forte de julho para agosto e, além de uma correção natural pelos ganhos que acumulou no intervalo, refletiu hoje sensibilidade ao que Powell disse. O sinal é ‘hawkish‘, mas ainda não há consenso, não só no mercado mas aparentemente também dentro do Fed, sobre o quanto os juros vão ainda subir nos Estados Unidos, também em setembro”, observa Edmar de Oliveira, operador da mesa de renda variável da One Investimentos, que, com o bom momento doméstico em relação ao que se vê no exterior, vê chance de o Ibovespa buscar os 120 mil pontos, uma vez que consiga enfrentar e se sustentar acima de resistência forte logo à frente, na faixa dos 114 a 115 mil pontos, e conte também com vetores externos mais favoráveis.

“Vale, por exemplo, teve hoje pressão vendedora quando chegou ali pelos R$ 71. O noticiário da China não tem contribuído para o setor de commodities. Veio corte de juros por lá, mas é preciso talvez um estímulo maior, pelo lado fiscal”, diz Oliveira.

No fechamento, Vale ON mostrava nesta sexta queda de 1,50%, cotada a R$ 68,23, na mínima do dia no encerramento, com máxima da sessão a R$ 71,20 – na semana, avançou 1,90%, com ganho até aqui no mês a 2,54%, bem inferior ao visto em Petrobras ON (+22,30%) e PN (+20,70%) em agosto.

“Até a sessão desta sexta-feira, houve sequência de três dias de alta (para o Ibovespa), descolado até mesmo do mercado internacional. Powell veio firme, sinalizando que o Fed continuará elevando as taxas de juros e as deixará elevadas por um tempo maior para controlar a inflação, ainda que se tenha impactos negativos para os consumidores e as empresas”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

“Chegou a tão esperada sexta-feira de Jackson Hole e a fala rápida do Powell manteve a mensagem de que os juros seguirão altos para trazer a inflação para a meta. Mostrou tom mais duro e até um certo desconforto, principalmente com o momento, em que o mercado vem atuando em direção contrária. Fala ‘hawkish’, no sentido de que o Fed fará de tudo para trazer a inflação para o centro da meta”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.

“Ainda tem uma grande parte do mercado que fica sempre torcendo para que o BC americano não suba tanto a taxa de juros e que comece a cortar o quanto antes, mas a mensagem há alguns meses já é essa: eles vão, sim, apertar as condições de liquidez”, observa Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.